#interludio: Dilma e Eu
O gabinete da ex-presidente tinha mais ministro do que carrapato em boi magro.
Por Kovács
Jornais
Trabalhando em jornal, na década passada, peguei já a fase de franca decadência do meio. A redação, lugar que produziu Paulo Francis, Nelson Rodrigues e outros, já era indistinta da calçada. Mau sinal: um povo está seco quando suas instituições estão corrompidas. Em vez de garrafas de uísque na sala do editor-chefe, pululavam pelas bancadas copos plásticos com shakes que tinham gosto e aparência de vômito. A vida fitness é incompatível com qualquer sutileza da alma.
Era a época em que os jornais se entupiam de infográficos, movimento que vinha já dos anos noventa. Periódicos que já tiveram oito colunas de texto por página caindo na esparrela de encher suas folhas com figuras coloridas. É deprimente ver o jornal, feito para o texto, tentar atrair o público que não gosta de ler. Não existe tarefa mais ingrata do que escrever para quem não gosta de ler. Atrair essa gente é tratamento paliativo, que protelará a morte certa da mídia impressa em alguns anos somente.
As páginas encolheram (formato berliner, dizem os embrulhões, ou até tabloide). No meu período de jornal, se notava algo estranho: não obstante o estado comatoso do meio, havia uma espécie de histeria dentro da redação. O jovem jornalista, principalmente, se sentia a alavanca da história. É uma pena, pois é uma energia dispersada com uma formação cultural muito ruim, o que não é exclusividade dos jornalistas, mas que os deveria atingir menos. Energia que falta a funcionários de olaria ou a ajudantes de pedreiro, atividades em que seria muito mais bem aproveitada.
Do jeito que a coisa caminha, em breve as notícias serão anunciadas com dancinhas, na rede social de dancinhas.
Dilma e eu
Eu gostaria de começar o relato com a data exata tirada do meu material, mas vai me faltar. Isso porque eu tenho três pastas-arquivo com tudo o que produzi para o jornal, mas evaporou justo a matéria de página dupla que cobriu a visita da então presidente Dilma Rousseff à Embraer de Gavião Peixoto. A foto que tenho guardada me dá uma pista: 20 de maio de 2014; reminiscências na internet a confirmam. Então, em 20 de maio de 2014, num fim de manhã, a então presidente da República, Dilma Rousseff, visitou a Embraer de Gavião Peixoto, interior de São Paulo, para inaugurar a linha de montagem de um supercargueiro.
O nome do supercargueiro você encontra na internet; esta news é de memórias menores. O avião voa, e isso me deixa feliz: algo mais pesado que o ar conseguir se apoiar nele é uma das coisas mais fantásticas descobertas pela humanidade. Vamos aos acontecimentos de 20 de maio de 2014.