#interludio: Entrevistando Evelyn Waugh
Como um inexperiente jornalista conseguiu domar um dos escritores mais ranzinzas de todos os tempos e produzir uma das melhores entrevistas da história do jornalismo?
Por Adaubam Pires
Você tem uma entrevista preferida? Eu tenho uma que, se pudesse, transformaria em cena de filme. Em abril de 1962, Julian Jebb, um novato jornalista de 28 anos, foi escalado pela revista The Paris Review para entrevistar ninguém mais, ninguém menos que o romancista Evelyn Waugh, então no ápice de sua carreira. Além de um dos maiores prosadores da língua inglesa no século XX, àquela altura Waugh também já tinha conquistado a fama de escritor esquivo em entrevistas, avesso a qualquer efusividade em público, beirando a misantropia no trato social. Como pode a entrevista conduzida por um jovem e inexperiente jornalista com o genioso e irascível escritor ter dado certo?
Julian Jebb, diga-se de passagem, não era um completo neófito no mundo literário. Embora fosse neto do poeta e escritor Hillaire Belloc, tendo passado a infância em Kingsland, famosa casa do vovô Belloc em West Sussex, rodeado por uma biblioteca de 10 mil livros perfumada com o cheiro de velas e com o arraigado catolicismo de Belloc, Jebb mostrou-se desde cedo pouco inclinado ao ofício do avô, preferindo em vez disso o mundo do cinema e das artes plásticas. Iniciando a carreira como jornalista de arte, Jebb ficaria célebre a partir da década de 70 pelos documentários que faria para a BBC sobre Virginia Woolf e Nancy Mitford. Mas ali pelos idos de 1962, de fato, Jebb não passava de um jornalista iniciante, sem muita experiência, recém-chegado de três anos de viagens pelo continente europeu após se formar em Cambridge. Mesmo assim, entre todos os possíveis entrevistadores da renomada Paris Review, foi o inexperiente Julian Jebb que ficou incumbido da árdua tarefa de arrancar alguma informação do autor de Brideshead Revisited.