#interludio: O Confisco da Cidadania
A proibição do X revela uma face perversa da nossa democracia
Por Jacques Meir
Foi mais ou menos no início da década passada que a revolução digital começou a espalhar seus tentáculos para além das dimensões sociais e econômicas. E-commerces, blogs, vídeos e redes sociais já disputavam a atenção dos “internautas”, agora equipados com celulares inteligentes. O grau de adoção dos smartphones multiplicou o letramento digital e o Brasil começou a sentir uma transformação até hoje incompreendida: com o digital na palma da mão, as pessoas, finalmente, começaram a participar mais ativamente das discussões e do temas mais importantes. Elas começaram a exercitar sua cidadania.
Essa percepção de cidadania resgatada (ou refundada) pelo digital causou tão uma cacofonia enorme. Cidadãos tinham meios de opinar, repercutirem assuntos, fatos, ideias, polêmicas, comunicarem o que pensam. Nunca antes na história humana, os “novos cidadãos” tiveram tamanha força e capacidade de mobilização. E isso ainda mais em um país no qual uma elite privilegiada, refestelada nos núcleos de poder da burocracia estatal, sempre viu a cidadania como uma forma de submeter o indivíduo aos seus caprichos. E essa capacidade de repercutir fatos, criar agendas e novas pautas originadas da experiência digital, gerou uma cacofonia incontrolável.