#interludio: O Doce Abraço da Mediocridade Econômica
Uma espécie de consórcio entre burocracia estatal, intelectuais e executivos induz o Brasil a se conformar em ser uma economia de segunda classe
Em outro artigo no NEIM, escrevi que o Brasil “é um país grandão, desengonçado e sem vocação para ser importante”. Se a paciência dos leitores me permitir, gostaria de desenvolver essa afirmação. Mais: tentar lançar alguma luz sobre essa nossa inaptidão para o protagonismo e nossa vocação para vermos surgir Cisnes Negros positivos (sim, Nassim Taleb também os reconhece) para logo depois nos dedicarmos a desaprendermos o que eventualmente aconteceu de bom.
Entre 1940 e 1980, a chamada “Era de Ouro” da economia brasileira, registrou crescimento anual médio do PIB da ordem de 6,8%. Entre 1981 e 2023, o crescimento anual médio do PIB caiu para medíocres 2,2% ao ano. Nos mesmos períodos, a inflação anual média do país foi, respectivamente, de 18,7% ao ano e 280,4%. Claro, esses recordes são tendenciosos. No fim do governo Geisel (1974-1979), a inflação já atingia os 40% anuais. Por outro lado, no início da década de 90, a inflação atingiu espantosos 3000% anuais. Assim, entre 1978 e 1994, a inflação anual média foi de inacreditáveis 764,6% (vocês mais jovens simplesmente não conseguem imaginar o que é isso) e entre 1995 e 2024, de apenas quase civilizados 7,3% ao ano.
As condições dadas para o crescimento da “Era de Ouro” não se repetirão jamais. Isso porque aquele era um mundo em reconstrução após uma Guerra Mundial, e o país, por ter virado a casaca (era alinhado ao fascismo durante os anos 30 e só cerrou fileiras com os aliados em 1943), recebeu empréstimos generosos do Tio Sam para fomentar um processo de industrialização. O país ainda exibia mão de obra jovem, farta e barata, que necessitava de pouca especialização, passava por um processo de urbanização e tinha uma elite bem preparada (acreditem, isso existiu no Brasil). Todos esses fatores e mais alguns, foram determinantes para incentivar um crescimento hoje visto como chinês ou indiano (acima de 5% ao ano). Claro, havia o efeito estatístico do “crescimento sobre uma base muito baixa”, no qual 20% de pouco era muito, tanto quanto 3% sobre um PIB de US$ 28 trilhões (PIB dos EUA atualmente) é muito dinheiro.
Mas a partir da década de 70 do século passado, o Brasil resolveu adotar ideias francamente ruins, dentro de uma mobilização orientada à “soberania nacional”. Os mais jovens, novamente, não vão entender, mas vale a pena rememorar: