#interludio: O Herói Silencioso
O Brasil é incapaz de ler uma obra-prima da literatura americana.
Um estranho fenômeno literário ronda o Brasil: o ressurgimento de um romance que, na época do seu lançamento, poucos prestaram atenção em seu país de origem (os Estados Unidos), mas que lentamente adquiriu a reputação de um clássico redescoberto.
Trata-se de Stoner (1965), de John M. Williams (e, por favor, saibam que não se trata do compositor homônimo dos temas de Star Wars, Superman e Indiana Jones).
Mas por que isso teria ocorrido, não só aqui, mas também nos EUA, onde este livro desconhecido tornou-se um cult? Afinal, a história do romance é muito simples. É sobre a vida “aparentemente sem aventuras” de William Stoner, filho de fazendeiros que se torna professor de literatura inglesa clássica na Universidade do Missouri, casa-se com uma esposa insuportável, tem uma filha alcoólatra, depois redescobre alguns prazeres com uma amante que era sua aluna, briga com um colega do departamento de Inglês, escreve um livro que ninguém leu e, finalmente, como sói de acontecer com todos nós, morre no mais profundo esquecimento.
No momento, não me interessa a recepção do livro nos EUA – mas sim como ele foi lido e analisado no Brasil, em especial nos meios onde ele foi extremamente bem recebido e os quais, hoje, fazem o papel de crítica literária que antes cabia aos luminares da academia ou então aos críticos de rodapé. No caso, os blogs, os sites e os jornais alternativos que discutem literatura moderna e contemporânea com uma intensidade raramente vista. Enfim, a alternativa à nossa querida e amada imprensa, mas que acabou sendo cooptada por ela.