#Interlúdio: o jogo esquerda-direita
As correntes ideológicas deixaram de ser uma mera opção política para se tornarem categorias morais. E quem as segue acredita ser moralmente mais elevado do que o resto da humanidade
Sabemos que a ideia de dividir o mundo político em duas facções surgiu no parlamento francês do século XVIII: os partidários do rei à direita; os simpatizantes da revolução à esquerda. No início essa bipartição valia para identificar quem pretendia manter alguma ordem e quem desejava, definitivamente, uma nova ordem.
Mais tarde o conceito ganhou novos contornos: ao direitista era atribuída a manutenção do status quo por ter um temperamento mais racional, por ser frio e calculista e não se deixar levar pela emoção; já o esquerdista, por ter bom coração e excesso de sentimentos, abandonava a razão para se compadecer da dura realidade dos menos favorecidos.
Acontece que do dia para a noite a razão tornou-se algo indispensável também para o bom mocismo. Então, direitistas e esquerdistas encamparam uma disputa para saber quem era mais inteligente. Assim, surgiram teses filosóficas e psicanalíticas para que, no final, ficasse decidido que a inteligência dependia exclusivamente de uma ficha de filiação partidária. E o jogo esquerda-direita passou a se estabelecer, não como uma mera opção política, mas como categoria moral. Quem se considera seguidor dessas correntes ideológicas, acredita-se moralmente mais elevado do que o resto da humanidade.


