O que Susan Sontag (1933-2004) e Philip Rieff (1922-2006), dois obcecados pelas moléstias do corpo e da alma, diriam dessas pestes que sempre estiveram em voga - entre elas, a mentira?
Esta é a pergunta que surgiu quando, em 2020, um grupo de intelectuais, composto por três americanos (Carl Rollyson, Lisa Paddock e Magdalena Edwards) e uma brasileira (Nádia Gotlib), escreveu uma carta aberta a Benjamin Moser, o autor do relato autorizado sobre a vida da ensaísta de Contra a Interpretação (1966) – intitulado singelamente de Sontag: Vida e Obra – e vencedor do prêmio Pulitzer de Biografia.
Publicado na Los Angeles Review of Books (e aqui no jornal literário Rascunho), o conteúdo do texto é polêmico. Alega que Moser, ao acusar Rieff, célebre acadêmico e esposo de Sontag quando esta tinha apenas 17 anos e era sua aluna na Universidade de Chicago, de não ter redigido o seu primeiro livro, o clássico Freud: A Mente do Moralista (1959), tem “má compreensão da noção de autoria e, na pior delas, uma distorção calculada dos fatos no intuito de angariar publicidade”.
O escândalo nesta afirmação é que, segundo Moser, Sontag seria a verdadeira autora do escrito de Rieff – e que a apropriação indevida ocorreu por causa do relacionamento tumultuado entre os dois, ocorrido entre 1950 e 1958, que se iniciou à la My Fair Lady (1964), de George Cukor, e terminou como um drama à la Cenas de um Casamento (1973), de Ingmar Bergman.