#Interlúdio: O suicídio da revolução
A esquerda se tornou a própria burguesia que se propunha a combater
O filósofo italiano Augusto Del Noce, no final da década de 70, publicou o livro “Il suicidio della rivoluzione”, onde explica como o materialismo faz a esquerda ser engolida pela pauta liberal e ainda se tornar a própria burguesia que se propunha a combater. A tese de Del Noce é bastante complexa e paradoxal. Parte da ideia de que o cumprimento da revolução coincide sempre com o seu suicídio, pois o esvaziamento dos valores tradicionais para se estabelecer uma nova ordem acaba, necessariamente, numa recaída na velha ordem, agora já sem os valores que a fundamenta.
“A ideia revolucionária implica a união de dois momentos: o negativo, como a desvalorização da ordem tradicional, e o positivo, como o estabelecimento de uma nova ordem. O suicídio ocorre quando, no processo, os dois momentos se perdem. Então, em vez da transição para a nova ordem, temos uma recaída na velha ordem, mas, desta vez, completamente profanada com a perda de seus valores fundamentais”.
— Augusto del Noce, Il suicidio della rivoluzione.
A questão é que, elevar a práxis a um princípio fundamental, como fez Marx na sua segunda tese sobre Feuerbach, traz em si a ideia de que é preciso dedicar a vida para transformar o estado presente em função de um ideal a ser conquistado no futuro. Mas se essa transformação descartar os valores fundamentais que são inerentes à própria sociedade, restará apenas o ser humano reduzido às suas necessidades materiais.



