#Interlúdio: Politicídio
Com a política corrompida e desacreditada, os fins sempre vão justificar os meios. E como estamos numa “guerra cultural”, a moralidade é suspensa e tudo é permitido para vencer o inimigo
A primazia da política sobre a cultura é, talvez, uma das características mais marcantes da modernidade. A tentação de transformar o mundo, tal como exposto na 11ª tese de Marx sobre Feuerbach, corrompeu a juventude, os aposentados, os youtubers e, mais recentemente, os bilionários que encomendaram uma versão premium de tese marxista: “os bilionários apenas acumularam dinheiro de diferentes maneiras, o que importa agora é gastá-lo para tornar o mundo melhor”.
Nada poderia ser mais caricato do que uma contracultura baseada nas leis de mercado. As empresas atuais estão apostando no marketing da sinalização de virtude, que não serve para aumentar as vendas nem informar sobre as vantagens de um produto, mas apenas para não se tornarem vítimas das chantagens de boicotadores profissionais. Os consumidores aceitam o jogo porque, diante do vazio das suas existências, esperam das empresas, não apenas produtos, mas um sentido para suas vidas. Então, passam a acreditar que ao comprar um rivotril vegano ou um novo smartphone, estão comprometidos a transformar o mundo num lugar mais justo, igualitário e diversificado.


