#interludio: Quebra-Ossos
De como a dengue, apesar do nome, não tem nada a ver com o nosso dengo.
*Por Adaubam Pires
Tive dengue em meados de março (“beware the ides of March”, dizem as palavras imortais) e não foi fácil: prostração geral por dias, numa mistura de febre, fortes dores abdominais, completa falta de apetite, intensas dores de cabeça, articulações doloridas e, o mais inusitado, uma profunda dor no fundo dos olhos, que por uma semana me impediu de qualquer tentativa de leitura. Agora, já retomada as rédeas da situação, aventuro-me aqui nesta digressão.
Como pode a dengue, essa doença tão devastadora, estar associada—ao menos etimologicamente—ao dengue, isto é, à denguice, aquela ladina demonstração de desamparo em troca de atenção e carinho? Como pode o mesmo substantivo ser compartilhado entre uma moléstia brutal (mal podia me levantar nos três primeiros dias) e uma forma lânguida e melindrosa de se portar? É tanta diferença que fui escarafunchar a origem das palavras.