A manchete a seguir está na home da “Folha de S.Paulo” desta terça-feira, 4/2.
Carros dos anos 1990 viram sonhos de consumo, mas custo de manutenção precisa entrar na conta
Valorização de modelos nacionais como Volkswagen Gol GTI ou importados com 30 anos movimenta o mercado e as oficinas
Depois do revival das décadas de 1980 e 1990 na música, com as pautas de comportamento, bem como com a, atenção para o xingamento, problematização das séries como Friends, o jornalismo de algoritmo parece ter encontrado um consenso: é preciso apelar à memória dos anos idos e vividos para cativar o coração e a emoção do leitor, esse ser arredio que insiste em ignorar a mídia profissional.
Então, o texto do repórter Rodrigo Mora tem o cheiro do napalm das features do jornalismo do século XX, com aqueles cacoetes narrativos de manual de telejornalismo, estratagema ainda adotado pelo Jornal Nacional para contar suas histórias. Em linhas gerais, o começo é sempre com um personagem.
Quando comprou sua VW Parati GTI 1999, Ernesto Kabashima planejava apenas dar uma revigorada na combalida perua para então revendê-la. Entretanto, após vencer uma prova do Rally Clássico (competição para carros antigos), mudou de ideia.
"Foi tão prazeroso que resolvi investir numa restauração e desisti de vender", diz Kabashima, que é gerente de riscos de uma gestora de fundos de investimentos. Aos 48 anos de idade, ele compõe o grupo de colecionadores que hoje lidera o mercado mundial de automóveis clássicos.
Depois desse zoom in, é a vez do contexto, mais amplo, aqui é importante trazer dados para comprovar a relevância do tema, como se o fenômeno fosse além de episódico, mas, sim, uma tendência da sociedade. Acompanhar como funciona essa construção é nada menos do que divertido.
Dados divulgados em dezembro pela seguradora Hagerty, especializada em veículos antigos, mostram que a Geração X, formada por pessoas nascidas entre 1965 e 1980, responde por 34% das cotações. Os "baby boomers" (nascidos entre 1946 e 1964) aparecem na segunda posição, com 33%.
Aqui é a síntese da abordagem algorítmica. O texto estabelece uma correlação entre geração X (e o jornalismo contemporâneo é obcecado pelo recorte geracional) com os “dados” de uma seguradora. É evidente que o leitor comum jamais terá acesso ao levantamento. Mas quem se importa? O fundamental aqui é mostrar que os números sustentam a pauta.