#JornalismoTravestido
Ainda vale uma reflexão sobre Reinaldo Azevedo todo flamboyant com Lula, como se o passado de ambos não fosse constrangedor
No crepúsculo dos meus 33 anos, vi, ainda com uma incapacidade de assimilação formigando, Reinaldo Azevedo e Lula sentados na mesma mesa. Novamente. Entenda, amigo leitor, que Reinaldo foi um dos ícones que marcaram o início da formação de meu imaginário político. Dava voz, com canetadas carregadas de sarcasmo e deboche, à minha indignação mediante o que se passava no governo federal.
Eu fui parte da juventude que aguardava inquieto pelas manhãs de domingo, quando, ao regressar da missa matutina, encontrava a Veja atirada à porta de casa. Ansiava ver a exposição à luz do criminoso governo lulopetista. Tempos de Augusto Nunes comandando a locomotiva com primazia, com o texto classudo de Diogo Mainardi, fazendo valer seu desprezo nobiliárquico pelo lulismo e, claro, as sangrentas linhas de Reinaldo Azevedo, seu massacre da serra elétrica contra os petralhas (neologismo de sua criação).
Áureos tempos da publicação. Hoje, não serve nem para limpar a bunda.
A vida seguiu, e, com ela, Lula II, Dilma I e Dilma II, impeachment, Temer, Bolsonaro e... 2019. Aqui é o é da coisa — Ba dum tss. Foi no fatídico ano que Reinaldo se tornou Arruinaldo Azevedo, o tetudo, como Olavo de Carvalho o passou a chamar depois deles entrarem em atrito. Arruinaldo era mais que um apelido, era o diagnóstico dos oxiúros que tomavam conta dele. Vale lembrar que, na época, Arruinaldo rodou a baiana.
Então, foi pego trocando poemas de amor com a irmã de Aécio Neves, em áudio vazado pela Lava Jato, em que falava mal da revista que trabalhava. Foi demitido. Em seguida resolveu pedir demissão da RedeTV e, ainda no ar, fez gestos obscenos — um caso levíssimo perto do que estava por vir. Sua volta à vida pública foi pavorosa. Reinaldo virou do avesso e, sem vergonha, abraçou o lulopetismo criminoso que sempre condenou.
Arruinaldo. No fundo, nunca foi um exemplo sólido de convicções. Era a metáforse ambulante, até que, simplesmente, virou escudeiro do indefensável, o porta-voz do projeto criminoso de poder que tanto combateu. O tetudo virou assessor de comunicação do Planalto lulista.
Arruinaldo, hoje, é o mascote oficial da metamorfose política brasileira. Não se trata mais do “crítico feroz” de outrora, mas de um ventríloquo do Planalto, um boneco de ventríloquo que fala com a boca de Lula enquanto finge ainda ter a verve afiada. Virou aquilo que mais desprezava: um jagunço intelectual do poder.
E aqui está a tragédia farsesca: não é só sobre Reinaldo, mas sobre toda uma geração que se formou lendo seus insultos certeiros contra o lulopetismo. Muitos, como eu, acreditavam que havia algo sólido naquelas linhas — que eram fruto de convicção, de caráter, de um código moral. Hoje vemos que eram apenas espuma, teatro de sarcasmo pago em coluna e em hora de rádio.
O mesmo sujeito que cunhou “petralha” hoje banca o advogado de defesa dos mesmos. É como se Orwell tivesse voltado do túmulo para nos lembrar que a novilíngua não precisa ser imposta pelo Estado: basta que os intelectuais de aluguel mudem de lado quando lhes convém.
Reinaldo não apenas traiu sua obra — traiu seus leitores. É como se estivesse cuspindo nas manhãs de domingo da minha juventude, nas páginas da Veja que nos alimentavam de indignação contra um governo podre. Hoje, o que resta é ver aquele que chamávamos de arauto do antipetismo convertido em garoto-propaganda de Janja e companhia.
Por isso que, no crepúsculo dos meus 33, percebo que a cena de Lula e Reinaldo juntos não é apenas repulsiva. É pedagógica. É a imagem acabada de um Brasil onde princípios não valem nada, onde até o massacre da serra elétrica vira peça de museu, substituída pelo sussurro servil do jornalista domesticado.
Uma jornalista amiga minha, que faleceu há pouco, considerava o Reinaldo Azevedo “o homem mais inteligente do Brasil”. Eram amigos muito próximos: trocavam livros, se ligavam frequentemente, ele a encontrava de vez em quando. E, assim como ele, ela, uma mulher culta e decente, virou a casaca e começou a defender o PT e as barbaridades lulopetistas, os desmandos do STF e o regime de exceção tabajara criado pelo Gilmarcismo com a chegada do Mentecapto ao poder. Falamos do corpo — não da alma. Deus a guarde, apesar dela ter sido ateia. Ainda lembro do carinho profundo que sentia por ela, mas depois de defender o Reinaldo com tanta veemência, perdi um pouco essa magia que você sente por amigos muito queridos.
Reinaldo é um verme com o peito enchido de cocô. Como fez com a Lxxxx, lavou a cabeça de milhares de brasileiros que viam nele um sinal de clareza sobre os rumos do país. Lixo.
Lembro até hoje quando eu voltava da empresa e colocava a Jovem Pan no carro e escutava o Reinaldo Azevedo meter o pau com todas as forças em cima do PT, Lula, Dilma e filiados. Eu gostava muito dele, pois metia o pau no governo e com razão.
Agora quem diria que aquele cara de 2014 iria mudar radicalmente a convicção dele. Agora é passador de pano para o Lula e o PT.
A new left agora adora esse pinguim! Uma verdadeira escória para o jornalismo.