Em 2008, eu perguntei pro Hector Babenco no falecido e adorado CQC:
- O que é ser um bolha?
Como resposta, tomei uma revistada no meio da fuça. Ele deve ter achado que eu era míope pra deixar uma revista tão perto do meu rosto.
Todos temos a máxima de que apanhar é uma afronta à honra. Portanto, Hector Babenco feriu minha honra. E seu eu tivesse uma arma? Eu estaria no meu direito de apontar essa arma pra ele já que eu fui agredido?
Carla Zambelli teve sua honra ferida no meio da rua. Um homem disse na cara dela "Te amo espanhola" em referência ao que disse Joice Hasselmann na CPI das Fake News: "Quem me perguntou na sala do presidente depois de eleito se você tinha sido prostituta na Espanha foi o presidente".
Depois de ouvir isso, ela caiu, diferente do que disse (que tinha sido empurrada), Se empurrão invisível fosse crime, todo dono de casa assombrada podia andar armado também.
Correu atrás do ofensor, pegou uma arma e entrou num estabelecimento particular que nada tinha a ver com a situação, assim como eu estava quando tomei uma revistada na cara.
Qual a diferença entre Zambelli e eu, além do sexo?
O poder da Zambelli é ser deputada, o meu é ser humorista de um programa famoso na TV. Ambos podem inflar o ego a ponto de dar a impressão de inatingíveis.
Eu fico me perguntando se eu tivesse um emprego que me desse imunidade inviolável, civil e penalmente, por quaisquer opiniões, palavras. Seria eu capaz de confundir essa inviolabilidade com pegar uma arma e sair andando na rua como o Chuck Norris?
Zambelli, incorporada na sua persona de parlamentar, na certeza da impunidade, sacou uma arma e desfilou na rua como se estivesse numa produção hollywoodiana dos anos 80. A diferença é que os anos 80 os vilões eram mais bem definidos!
Pra tornar ainda mais patético, era período eleitoral: um dia antes das eleições de 2022.* Como se sabe, não se pode andar armado um dia antes, no dia da votação e um dia depois.
E mais! Ela sacou a arma nos Jardins, bairro nobre de São Paulo. Teria ela andado com a arma em punho levantada à altura do rosto em plena Heliópolis? Meio Nutella essa puxada de arma aí, hein? Sacar arma nos Jardins é fácil, quero ver puxar em Heliópolis sem antes perguntar ‘senhores, com licença, posso participar da cena? Puxar arma nos Jardins é tipo ostentar carrão na porta da academia: só impressiona quem já vive na bolha. Quero ver sustentar essa marra na Heliópolis sem virar estatística!
Parlamentares, juízes e presidentes se esquecem da função deles por conta desse poder que eles carregam em seus cargos. Na verdade, seria ingenuidade minha dizer que eles esquecem. Eles se lembram muito bem quando acordam todos os dias e gozam de uma vida absolutamente confortável e não usam esse conforto que o cargo lhes dá para confortar também a quem eles devem servir.
O que fez a Zambelli se sentir confortável o suficiente para pegar uma arma e sair andando na rua, é o mesmo fato que faz com que o Lula tenha a cara de pau de dizer que a gente precisa deixar de comprar pra controlar preço das coisas: a arrogância narcísica que os impede de enxergar a realidade.
Próximo passo é o Bolsonaro dizendo que a solução pra violência é o cidadão parar de sair de casa."
Hoje, Carla Zambelli conseguiu a suspensão de um processo que pode levá-la pro xadrez por mais de 5 anos e perda de mandato. Espero que ela aproveite este tempo para ir a um psiquiatra e rever seu comportamento.
Cinco anos de prisão não é muito. Semi-aberto. Vai poder sair de dia e dormir em casa. Praticamente um político com mandato.
Mas o cargo, que perca com gosto. Ela não serve para parlamentar.
E não só ela, nós eleitores também precisamos de psiquiatras. Não temos sabido escolher nossos representantes há muito tempo! Não temos feito jus à democracia que conquistamos.
*Errata: Eu havia escrito que as eleições eram para prefeitos e vereadores.
Quem sabe depois de umas sessões de terapia ela aprenda que o Bolsonaro não vale esse papelão.
Show, como sempre! Oscar Filho foi uma ótima escolha para o NEIM. Só um detalhe: a eleição era para presidente.