Durante alguns anos, Vladimir Safatle, professor titular de filosofia da USP, foi colunista da Folha de S.Paulo. O acadêmico que se parece com o outro Vladimir, o Lênin, distribuía textos ilegíveis, mas com a mesma tese: “vamos ocupar o Palácio de Inverno”.
Em 2019, Safatle foi despejado de sua coluna, mas seu espírito ainda ronda o jornal. Nesta quinta-feira, por exemplo, ele reapareceu. O mote: a coluna de Wilson Gomes da semana passada, já abordada neste site previamente.
Safatle está preocupado com a normalização da extrema-direita:
Na semana passada, Wilson Gomes publicou, nesta Folha, um artigo em que exortava a aceitar a normalização pretensamente inevitável da extrema direita. Chamando as reações a tal processo de "dogmas" animados por alguma forma de cruzada moral contra setores muitas vezes hegemônicos das populações mundiais, o autor julgou por bem lembrar que "se o voto é o meio consagrado pelas democracias para legitimar pretensões políticas" não haveria razão alguma para agir como se a extrema direita não fosse democraticamente legítima. Por fim, não faltou estigmatizar aqueles que falam em "fascismo" ao se referir atualmente a tais correntes.
Safatle não reconhece nenhum adversário que esteja no outro lado da disputa ideológica. A descrição objetiva da tese de Gomes já traz no seu germe as raízes do desprezo com que observa quem ousa não ser de esquerda. O trecho “não faltou estigmatizar aqueles que falam em ‘fascismo’ ao se referir atualmente a tais correntes” é didático: quem estigmatiza é sempre o outro.