Que que é liberdade mesmo???
A melhor, ou talvez a pior, parte de amadurecer é perceber que podemos discordar de nossos ídolos e referências sem, necessariamente, desrespeitar seu trabalho.
Recentemente, Andrea Beltrão foi ao Roda Viva e respondeu à clássica pergunta:
"Qual é o limite do humor?"
Antes de continuar, é importante fazer uma distinção: humoristas e comediantes não são a mesma coisa.
Comediantes são atores que interpretam e performam piadas, textos e roteiros criados por outros, a quem podemos chamar de humoristas.
Já os humoristas são os criadores de seu próprio material. Se ele interpreta seus próprios textos, também pode ser chamado de comediante.
Um não invalida o outro, mas essa diferença pode mudar a forma como entendemos a criação do humor, suas regras, atalhos, lógicas e contextos.
Voltando à Andrea, a pergunta seguiu com:
"O que você achou da condenação do Leo Lins?"
Quem estava na bancada “ajudou” a Andrea, mencionando que ele fez piadas racistas e preconceituosas (nem vou entrar no mérito aqui, talvez numa próxima).
Resposta dela:
"Muito apelativo, um rapaz apelativo."
E a pergunta voltou:
"O humor ficou mais chato?"
Resposta:
"Não, não ficou. O que eu acho é o seguinte: é muito delicado fazer graça humilhando alguém. Eu não tenho prazer nisso. Acho que o humor deve ser livre. É um território, é terra de ninguém. O politicamente correto no humor pode ser um certo engessamento, mas acho que é possível driblar isso."
Aqui, Andrea diz não sentir prazer em humilhar os outros, mas logo depois defende que o humor é "terra de ninguém". Parece contraditório, não?
Também me parece que ela não assistiu ao material completo do Leo Lins para afirmar que o humor dele é apenas humilhante. Seria mais preciso se ela tivesse dito que ele também faz humor apelativo.
Todos os artistas da comédia, sem exceção, já sofreram com o Politicamente Correto. O que ela chama de "um certo engessamento” não é uma leve preocupação, mas um peso diário. Pergunte a qualquer humorista se ele não pensa quatro ou cinco vezes sobre cada piada que faz, por medo de ser cancelado... (Leia o artigo que eu falei sobre humor na TV)
E sim, é possível contornar isso em alguma medida, mas as barreiras hoje são tantas que é quase um feito para uma comediante estabelecida falar livremente sobre o tema em um programa como o Roda Viva. Talvez ela não perceba isso. É perceptível o quanto ela pensa antes de responder algo que, com sua experiência, deveria ser automático.
Ela continua:
"E fica combinado que evoluímos desde Antígona, de 2.500 anos atrás, de Sófocles. Talvez tenhamos evoluído um pouco para ter mais empatia e afeto."
É claro que o humor evoluiu, mas a evolução não deve ser confundida com uma adaptação exclusivamente ao politicamente correto que engessa a verdadeira a liberdade criativa de humoristas, comediantes ou artistas. Senão tudo poderá ser classificado como discurso de ódio passível de proibição. Sobretudo, através de leis.
Não porque seja feio ou errado, mas porque, no fim das contas, quem define se o que fazem é bom ou não é o público. Se o artista tomar um rumo equivocado, o próprio público e os fãs vão, pouco a pouco, deixando ele de lado e procurando outros. É a seleção natural da arte: quem não se adapta, perde seu lugar.
Viva o Darwinismo artístico!
A classe artística brasileira tem medo de falar. Esse é o sintoma e a causa.
E, penso, confundiu Sófocles com Aristófanes….Meteu um “Antígona” que não tem nada de humorístico