#Literatura: a incontinência do bode(2)
Como Vargas Llosa capturou, em um dos romances mais impactantes do século 20, a essência do ditador que parece brotar periodicamente por estas bandas latino-americanas
PARTE 2
No dia 28 de junho de 1914, quando Gavrilo Princip, nacionalista sérvio, assassinou a tiros o Arqueduque Franz Ferdinand e sua esposa, Sophie, Duquesa de Hohenberg, herdeiros do trono Austro-Húngaro, quase ninguém chorou. O Arqueduque era temperamental, desconfiado e grosso. A Duquesa era feia e praticamente uma plebeia - oh, horror! Para piorar, o casal tinha planos de transformar o duplo império em triplo, dando aos eslavos status igual ao dos húngaros e austríacos, que não gostavam muito desta ideia.
Nem o Imperador compareceu ao funeral. O assassinato poderia ter passado quase em branco, mas a combinação de militarismo, imperialismo, alianças e nacionalismo entrou em erupção. Um mês depois começou a Grande Guerra, mais tarde chamada de 1a Grande Guerra. Só iria terminar em 1918, com mais de 20 milhões de mortos e 20 milhões de feridos, sem falar no que veio em 1939.
Do lado de cá do Atlântico a devastação deveu-se muito mais à epidemia de influenza, erroneamente chamada de “gripe espanhola”, que acabou levando a vida de mais de 50 milhões de pessoas no mundo todo. Mas ela começou quando a guerra estava acabando. Em 1914, quando a guerra começou, Woodrow Wilson não tinha qualquer intenção de envolver os Estados Unidos. Buscou a neutralidade. A participação limitava-se a fornecer enorme quantidade de suprimentos para os Aliados. Com o caminho que a Guerra estava tomando, surgiram temores que a Alemanha quisesse estabelecer uma base naval na República Dominicana, aproveitando-se de sua instabilidade política e dívida pesada com as nações europeias. O objetivo era restaurar a ordem, controlar a receita alfandegária para pagar as dívidas e impedir a interferência estrangeira, estabelecendo um governo militar sob o Corolário Roosevelt, o que levou a uma administração militar dos EUA que durou até 1924.