Não É Imprensa

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#LiteraturaItaliana(4)

A linguagem dos fantasmas

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Vivian Schlesinger
out 20, 2025
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Parte 4

A vasta bagagem literária de Primo Levi seria insuficiente para navegar no domínio de Lúcifer. Assim como Dante, o personagem, dependeu da habilidade com as palavras do poeta Virgílio para guiá-lo no Inferno, Primo Levi logo percebeu a importância das palavras que precisaria para decifrar as regras em Auschwitz. Conhecia quatro palavras em alemão: comer, trabalhar, roubar, morrer. ‘Contratou’ um prisioneiro mais experiente para orientá-lo em troca de comida. Rapidamente aprendeu que lá, ‘amanhã de manhã’ queria dizer ‘nunca’; um cacetete de borracha era chamado de ‘intérprete’; ‘proeminentes’ era um eufemismo aterrador para aqueles que sobreviviam às custas de ardis e brutalidade; os desesperados, cuja postura encurvada, de joelhos, denunciava que nada lhes restava eram chamados de ‘muçulmanos’. Seu próprio nome desapareceu; agora era um ‘häftling’, prisioneiro, de nome 174517. Em sua prosa todo esse aprendizado está detalhado de forma cristalina, o foco recai sobre os verbos. O efeito é de uma aparente racionalização, algum controle sobre o bestial. A turbulência interior contra a qual Levi guerreava não é revelada.

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