#LulaCava
Se Trump está cavando um rompimento diplomático, ele só está aumentando o fosso já iniciado por Lula
No Estadão, Diogo Schelp afirma que a Embaixada americana tenta cavar rompimento diplomático com o Brasil. Segundo o jornalista, Trump fabricou essa crise e o encarregado de negócios, que hoje comanda a Embaixada americana em Brasília, atuaria para ampliar as tensões e obter a própria expulsão.
Não é de duvidar que o representante da Embaixada esteja atuando assim, mas afirmar que foi Trump que fabricou a crise é esquecer de dar o merecido reconhecimento a outros protagonistas que hoje habitam o governo brasileiro.
De certo modo, isso ajuda Lula a continuar a cavar a imensa cova de todos nós e depois jogar a culpa naquele que disse que não é coveiro e no imperialismo americano. Não sei se é o caso de Schelp, mas muita gente na imprensa quer dar a entender que Trump produziu essa confusão com a ajuda dos bolsonaros ou com a finalidade de ajudar os bolsonaros. Imaginam que, assim, negando a realidade estão prejudicando os bolsonaristas. Na verdade, só contribuem para manter os dois, Lula e Bolsonaro, juntos, comandando a nossa degradação.
Será que a crise atual é resultado do capricho de Trump contra o Brasil? Ou dos ataques deliberados e sem motivação do governo brasileiro contra instituições e empresas dos EUA?
Brasil e Estados Unidos são aliados há 2 séculos e quem sempre deu demonstrações de desagrado com isso foi o PT. No entanto, nos últimos dois anos e meio, a retórica ideológica que parte do próprio governo brasileiro se intensificou.
Janeiro de 2023, no discurso de posse:
Lula começou com os dois pés esquerdos. Criticou práticas imperialistas, especialmente em relação a instituições financeiras internacionais e à hegemonia do dólar. Ele afirmou que o Brasil não seria uma "sucursal dos Estados Unidos na América Latina".
Fevereiro de 2023:
O Itamaraty, com anuência de Lula, autorizou dois navios de guerra iranianos a atracarem no Rio de Janeiro. A Embaixada americana solicitou publicamente que o Brasil negasse a entrada e não foi atendida.
Maio de 2023:
Lula recebe Maduro e retoma relações com a Venezuela. Em discurso, defende a reintegração internacional e a revogação de sanções do governo ditatorial e ilegítimo do venezuelano, que é sancionado pelos EUA.
Dezembro de 2023:
Lula defende novamente que o Brasil precisa negociar sem o dólar como moeda padrão e critica o FMI. Em 2024 e 2025, Lula vai mencionar a desdolarização e a moeda dos Brics em vários outros encontros.
Agosto de 2024:
Moraes, com anuência do governo e do STF, bloqueia conta bancária da Starlink, para pressionar o Twitter a cumprir decisões judiciais. Ou seja, ele intimou o Twitter, mas puniu a Starlink que, embora tenham Elon Musk como acionista, têm estrutura administrativa e finalidade empresarial distintas. A ação foi vista como abuso de autoridade e abriu margem para um maior tensionamento das relações diplomáticas.
Novembro de 2024:
Rosângela Lula solta um “fuck you, Elon Musk” que repercutiu fortemente na imprensa internacional.
Dezembro de 2024:
Poucos dias antes da eleição nos EUA, Lula declarou: “Trump representa um fascismo e nazismo com outra cara. A eleição dele foi um erro histórico que trouxe ódio e mentiras diárias ao mundo”. Logo após o resultado favorável a Trump, Lula reiterou que Trump representa uma ameaça à democracia global. A equipe de transição americana cancelou uma reunião preparatória com o Brasil – algo sem precedentes desde 1945.
Entre 2023 e 2024:
Lula fez várias declarações de solidariedade “contra pressões externas” a regimes como Cuba, Nicarágua e Venezuela. Quem sanciona esses regimes são os EUA.
Março de 2025:
Lula criticou o “colonialismo digital” e disse que as “oligarquias digitais” impedem a “democracia plena”. Nesse mesmo período, Alexandre de Moraes já havia afirmado que as big techs “não são enviadas por Deus”, que são “instrumentos do fascismo e do ódio” e que “doutrinam em nome de dinheiro e poder”.
Junho de 2025:
Alexandre de Moraes declarou empresas americanas como “inimigos internacionais”. Gilmar revelou a admiração da Corte Suprema brasileira ao regime chinês e impôs às plataformas digitais a necessidade de praticar a autocensura. O Brasil é o primeiro país que tem a regulação das redes formulada pelo judiciário, sem anuência do Parlamento.
Mais recentemente, poucos dias depois de Trump decidir aumentar para US$ 50 milhões a recompensa que os Estados Unidos oferecem, desde 2020, pela captura de Nicolás Maduro como chefe de uma rede internacional de narcotráfico, o Brasil resolveu restabelecer voos diretos para Caracas, que estavam suspensos desde 2016. (Aliás, em julho, por alguns dias, a Venezuela passou a cobrar tarifas surpresas dos produtos brasileiros, entre 15 e 75%, ação posteriormene atribuída a uma falha do sistema e não a um ataque à soberania).
No Congresso Nacional, circulam moções de repúdio aos EUA. Uma delas apresentada por Lindbergh Farias, que afirma que o Brasil não é colônia – que é só pode ser uma neura pessoal do deputado, pois não é propriamente uma relação histórica concreta de subordinação alguma vez estabelecida entre Brasil e EUA.
Devido à hostilidade do Brasil, programas de cooperação militar tiveram reuniões canceladas, o que está colocando em risco a manutenção de projetos estratégicos para o Brasil, inclusive o funcionamento dos radares de vigilância da Amazônia.
É bastante evidente a escolha do governo brasileiro, sem provocação prévia dos Estados Unidos, já em 2023, ou seja, antes de Trump, de escalar uma crise diplomática que em nada interessa ao Brasil. O governo Biden passou 1 ano ajudando Lula a vencer a eleição – ou melhor, ajudando no processo democrático brasileiro – e, já no início de 2023, observou uma incomum recusa do Brasil em aumentar a aproximação entre os países.
Há uma carta de Mauro Vieira, enviada a Marco Rubio, logo que este foi indicado à Secretaria de Estado, que foi colocada em sigilo por 15 anos pelo governo brasileiro. Por que?
Junto dessas múltiplas ações do governo para minar as relações com os EUA, temos Eduardo Bolsonaro disposto a espalhar suas narrativas delirantes no entorno da Casa Branca. Recentemente, ele gravou um vídeo em que dizia que ele não vai recuar, mas se preocupava com os brasileiros que, em alguns anos, teriam que procurar cachorro na rua para comer, como fazem os venezuelanos. Quem sai aos seus não degenera. Fora a repugnância que causa, sua interferência no que o governo dos EUA faz é minúscula. Seu principal contato com o governo Trump não tem poder decisório, mas assessora quem tem.
Nem Eduardo, nem seu pai, têm o poder que o governo brasileiro teria se quisesse realmente resolver a crise. É preciso lembrar que até Bolsonaro, quando era o presidente, conseguiu negociar as tarifas que Trump lançou sobre o aço e alumínio.
Segundo Lourival Sant’Anna, a principal motivação de Trump é aproveitar essa briga entre direita e esquerda no Brasil para se apresentar como grande líder mundial da direita e mostrar que a esquerda é que é radical e autoritária. Ele gosta quando políticos de direita de outros países se comparam com ele e tende a protegê-los enquanto isso não afeta diretamente seus interesses.
Mas Trump só defenderá os Bolsonaros enquanto isso trouxer o tipo de repercussão que ele quer. Isso significa que ele não está sonhando com anistia. O que ele certamente aprecia é intensificar a polarização.
Se o governo brasileiro oferecesse um bom acordo comercial, que atendesse alguns interesses americanos, se parasse com o inútil discurso da desdolarização... a crise poderia amenizar muito, principalmente em relação à tarifa. De quebra, o Brasil poderia abrir o mercado – a alíquota média de 11% do Brasil contra a americana que era de 2%, barreiras não-tarifárias e medidas anti-dumping são coisas que o governo brasileiro poderia resolver para acalmar a situação. O que poderia ser muito benéfico para o Brasil em vários aspectos. Isso sim seria defender soberania.
Mas isso é uma idealização cada vez mais distante. A política interna e externa brasileira atual não representa soberania, mas sim imaturidade, descontrole emocional e altíssimas doses de irresponsabilidade.
A política interna e externa brasileira atual não representa soberania, mas sim imaturidade, descontrole emocional e altíssimas doses de irresponsabilidade. Esqueceu de dizer que representa a mais FINA CORRUPÇÃO em todas camadas do poder.
Estadão faz parte do consórcio de imprensa e tem dívida para umas 5 gerações.....