Pablo Marçal se tornou inevitável.
Uma prova disso? Na Folha de S.Paulo, o epicentro da suposta cultura diletante que ousa grassar na Ilha de Vera Cruz, Elio Gaspari, Antonio Prata, Celso Rocha de Barros e até a ombudsman se debruçaram sobre o ex-coach.
Elio Gaspari diz que a campanha do PT tem de ficar alerta com o exemplo de 2018; Antônio Prata cita o exemplo comezinho de sua vida burguesa para desqualificar Marçal; Celso Rocha de Barros diz que o crescimento de Marçal é um problema para Bolsonaro; e a Ombudsman do jornal traz Ivan Turguêniev para a conversa, tentando, quem sabe, elevar o nível da discussão – quem sabe os leitores não se interessam por literatura russa?
Nenhuma dessas colunas, no entanto, endereça o problema de fundo: a escalada Marçal pode ser um caminho sem volta não por conta do bolsonarismo, das fake news, da extrema direita, ou dos inimigos imaginários que se apresentem.
Pablo Marçal é problema de demanda, não necessariamente de oferta. O jornalismo político informado e o establishment acusam sua conduta tosca e suas propostas vazias. De acordo com essa linha de raciocínio, o sucesso do candidato do PRTB tem a ver com a sua fluência em mídias sociais (as palavras de Andrea Sadi, na GloboNews).
Mas se é tão fácil assim justificar o êxito do coach, por que outros não replicam o estratagema? Será que só existem operadores das mídias sociais dos candidatos antissistema? Imaginem só se os operadores das mídias sociais de Barack Obama em 2008 fossem acusados disso?
(Para quem não se lembra, o então postulante democrata desossou a favorita Hillary Clinton a partir de uma campanha inovadora e agressiva – que fazia uso do Twitter para superar seus rivais. Na ocasião, Pedro Doria parecia animado com o avanço da tecnologia).