No passado, os livros de memórias eram recheados de histórias e feitos de conquistadores, generais e políticos. No século XX, outras figuras passaram a ingressar o rol de biografados e autobiografados.
E no século XXI? Bom, neste século que parece nunca começar – foi no 11 de Setembro de 2001, ou foi na Crise das Subprimes, em 2008? Ah, na Primavera Árabe, em 2011? Ou na Covid-19? Melhores respostas nos comentários, por favor – sobram livros de memórias até para quem esteve do outro lado da trincheira – no caso, na televisão. O caso em questão é o livro de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, outrora todo poderoso da maior emissora do país, a TV Globo.
Boni é apresentado com pompa e circunstância pelo Estadão, que faz um longo elogio a um dos pais fundadores do entretenimento eletrônico do país:
Na posição de diretor e vice-presidente, ele foi o responsável (ao lado de Walter Clark) pela criação de programas históricos (do Jornal Nacional ao Xou da Xuxa) e novelas inesquecíveis. Ele ainda implementou o chamado “padrão Globo de qualidade”, tanto para a área artística quanto jornalística, e foi responsável por consolidar a emissora carioca como uma potência de audiência.
De acordo com o texto de Gabriel Zorzetto, o livro complementa a experiência autobiográfica anterior de Boni:
Depois de repassar os mais de 60 anos de carreira na autobiografia O Livro do Boni (Casa da Palavra, 2011), ele rende, agora, um longo tributo aos talentosos profissionais e amigos que lhe cercaram durante toda essa trajetória em O Lado B de Boni (BestSeller). A sessão de autógrafos em São Paulo será na terça, 20, às 19h, na Livraria da Travessa do Shopping Iguatemi.
Imagine o leitor de NEIM o seguinte: não apenas o audiovisual vive uma crise criativa – com poucas novidades na paisagem – como agora é preciso que Boni lance uma nova versão de suas memórias. Para a sorte do mercado editorial, ter mais de seis décadas como executivo do entretenimento rende boas histórias – de um tempo que, como atesta a morte de Silvio Santos neste fim de semana, está desaparecendo sem deixar substitutos.
A obra, recheada de histórias saborosas, reúne capítulos dedicados ao dramaturgo Dias Gomes, então diretor artístico da Rádio Clube do Brasil que o acolheu como pupilo; aos astros das telenovelas (Paulo Gracindo, Fernanda Montenegro, Tarcísio Meira); aos músicos (Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso), aos humoristas notáveis (Chico Anysio, Jô Soares, Renato Aragão); aos apresentadores de peso (Faustão, Galvão Bueno, Chacrinha, Glória Maria), além de outros colegas menos conhecidos do público, mas fundamentais na engrenagem da máquina global.
Todos os nomes citados no texto – e que estão presentes no livro – dialogam com a memória afetiva de uma época em que os artistas em questão contavam com lastro na imaginação da audiência. O êxito da TV Globo se respaldava exatamente aí. E agora? Agora, a despeito dos esforços para se atualizar e responder às novidades, a “engrenagem da máquina global” não é capaz de cativar os jovens e mesmo a geração Z, que preferiu ver os Jogos Olímpicos na Cazé TV, por exemplo.