#MetonímiaDoDesastre
Lula prova diariamente que é a metonímia de tudo o que há de pior no Brasil. Relembre a eterna entrevista de João Pereira Coutinho com Diogo Mainardi
Diogo, o Terrível. A eterna entrevista, que inspirou a coluna Não É Entrevista nos primeiros meses do NEIM, precisa ser lida novamente.
João Pereira Coutinho entrevista Mainardi e o tema central é o lançamento do livro de Mainardi, Lula é minha anta. Mas a conversa vai além: é também, de certa forma, um lamento pela primeira grande chance desperdiçada de se livrar de Lula com o escândalo do mensalão.
O lamento de grandes escritores é sempre fruição, alívio, quase catarse para quem lê.
Destaco abaixo algumas pérolas:
Você não acha que a corrupção, para os brasileiros, não é tão grave como seria para os europeus?
Corrupção é fruto de falta de democracia. Quanto mais avançada é uma democracia, menor o risco de corrupção. Uma imprensa independente ajuda a vigiar a classe política. Um judiciário independente também. Até a arte tem um papel no combate à corrupção. Ela oferece à sociedade ferramentas como iconoclastia, humor, visão crítica, senso estético, senso de proporção, agitação intelectual, inquietude existencial tudo isso aumenta nossa desconfiança e nossa insatisfação em relação às pessoas em geral e aos políticos em particular.
Então o problema central talvez não seja Lula, mas o Brasil.
Exatamente. Lula – o meu Lula – é metafórico. Talvez até metonímico. Ele representa o que o país tem de pior.
Eu estive no Brasil em dois momentos marcantes dos últimos anos: quando o mensalão estava no auge e nas últimas eleições. E fiquei pasmo com pessoas educadas, fluentes e letradas que diziam que votariam em Lula, não em Alckmin?
Pessoas educadas, fluentes e letradas que votam em Lula? Não conheço. Acho que você está freqüentando demais os jornalistas da Folha de S.Paulo.
Você é particularmente duro com o jornalismo brasileiro, que teria sido cúmplice de Lula. "O presidente manda. O jornalista publica. O contribuinte paga", eis o aforismo. Depois do mensalão e apesar da reeleição, você acha que mudou alguma coisa?
Agora o contribuinte sabe o que está pagando.
Um de seus melhores textos, "Minha Vida de Coiote", é o retrato de como perseguir Lula se transforma sempre num desastre para o perseguidor como na história do Coiote e do Papa-Léguas. Com todos os processos, ameaças e xingamentos, você nunca pensou simplesmente: "que se dane tudo"?
Como o Papa-Léguas, eu sempre acho que meu próximo plano vai dar certo.
Existe alguma coisa de positivo no Brasil para você? Ironicamente, lendo o seu livro, a coisa mais positiva é a Justiça, que o absolvia nos processos.
O que eu mais gosto no Brasil é minha casa. Fora da minha casa, minha rua, no máximo até a esquina. Institucionalmente, sim: a melhor chance do Brasil --quem sabe a única-- está nos tribunais.
Isso não é um paradoxo? Como explicar que tudo corra mal, exceto a Justiça?
Tenho de apelar para Montesquieu. Sabe como é: aquele lero-lero de separação dos poderes. Como todo o resto, a Justiça pode ser uma porcaria, mas as leis não são. Há um monte de bons juízes e promotores por aí, aplicando-as com rigor.
Abrindo um pouco mais a conversa: como você observa a política da América Latina --Chávez, Morales e tutti quanti?
Jura que você quer falar sobre essa gente?
Claro. O grotesco diverte-me.
Em excesso, o grotesco enjoa.
Apesar de tudo, seria improvável que Lula seguisse os passos da "revolução bolivariana" de Chávez, não?
Eu sempre reconheci uma qualidade em Lula: ele é maricas demais para se meter numa fria dessas.
E a sociedade brasileira não é a venezuelana, ou é?
Você tem razão: a venezuelana é um tiquinho melhor.
Você tem candidato favorito nas eleições americanas?
Meu preferido é John McCain. Os americanos têm o dever de ajeitar as coisas no Iraque, e o único que capaz de fazê-lo é o velhote.
Meu preferido é Obama, por causa do antiamericanismo mundial. Seria uma lição para o mundo eleger um negro.
Se eu fui demasiado otimista com o Brasil, você está sendo demasiado otimista com o mundo.
Lula é metonímia de tudo o que há de pior no Brasil. O populismo paternalista, a corrupção, o desprezo pela crítica, o culto à “esperteza”, a indiferença moral travestida de carisma. Lula abrange em si todo esse Brasil. E, hoje, podemos ter dúvidas bastante substanciais sobre ele ser maricas o bastante para evitar a venezualização do país.
Na época em que a entrevista foi feita, Lula estava em seu segundo mandato, mesmo depois do escândalo do mensalão. Ele foi salvo pela complacência da imprensa, mas também do STF. No tempo em que o STF ainda procurava fingir que seguia a lei, Lula passou ileso, não sofreu nenhuma consequência jurídica direta ainda que as evidências sobre sua atuação no esquema fossem fartas.
De lá para cá, o STF piorou e a imprensa também, depois de uma leve e passageira oxigenação durante a Lava Jato, o clima é de uma covardia sem precedentes.
No pano de fundo internacional, Trump ainda não havia ocorrido. Mas é difícil não concordar, de novo, com Mainardi. McCain era, provavelmente, uma última esperança de contenção moral e institucional.
Mainardi dedicou milhares de horas a Lula, como quem tenta exorcizar um fantasma que insiste em voltar. E voltou. Continuamos entregues à anta de Mainardi. Ainda que não possamos mais contar com a consolação diária da sua ironia, ler e reler seus textos e livros é um exercício de sanidade não contra um governo, mas contra uma mentalidade.
Por favor republicar sempre o Diogo!
Ficou surpreso com pessoas inteligentes que votariam em Lula e não em Alckmin... Surpresa eterna é Alckmin, depois de ter chamado Lula de ladrão ("...Lula quer voltar à cena do crime..."), ter se jogado, sorridente, nos braços de Lula.... Alckmin, vice de Lula, não seria surpresa? Claro que não: é mais do que uma supresa, é um absurdo...mas todos já deveriam saber que PSDB (Alckmin é cria deste partido...) e PT são farinha do mesmo saco...