#NadaRestou
A repercussão da morte do ativista conservador Charlie Kirk conseguiu ser tão deplorável quanto o seu assassinato
A imprensa se esforça para dizer que Kirk tinha ideias extremistas para, obviamente, dissimular a conclusão de que ele seria o culpado pelo próprio assassinato.
Porque sempre tem aquele “mas” depois de “somos contra a violência”.
Na internet, os jovens revolucionários de Instagram não apenas comemoraram a morte de Kirk, como desejaram o mesmo destino a Nikolas Ferreira.
Em 2022, publiquei meu primeiro livro, chamado O que restou da política, um ensaio sobre como os extremismos ideológicos estavam destruindo as nossas relações sociais. A política, que deveria ser a arte de conciliar conflitos na busca do bem comum, tornou-se o campo de batalha onde vale tudo para destruir os inimigos.
O livro está passando pela prova do tempo. Fica cada dia mais atual.
Sei que é um tanto constrangedor ficar fazendo auto-citação, como seu eu fosse um profeta dizendo “eu avisei”. Mas me esforcei para compreender as confusões da nossa época e tirar conclusões meio óbvias, como, por exemplo, neste trecho:
[p. 131-132] Os fins que sempre justificam os meios – e como estamos numa “guerra cultural”, a moralidade é suspensa e tudo é permitido para vencer o inimigo. Estamos diante de um movimento cultural caracterizado pela demonização dos adversários políticos, que ora são doentes mentais ora entidades demoníacas, sendo preciso uma espécie de exorcismo para se conter os avanços do mal e purificar a humanidade. A situação é sempre desesperadora, como nos versos do umbral do Inferno de Dante: “deixai toda a esperança, vós que entrais”.
Enfim, o cidadão comum tornou-se um soldado na guerra psicológica moderna. Se a moralidade da guerra é perversa, na psicológica ela é ainda mais atroz. Não se pretende reparar a injustiça buscando a justiça, não se pretende vencer o mal com o bem, mas apenas responder a injustiça com a vingança. Não se ouve mais o grito da consciência que procura sufocar o ódio de um pessimismo metafísico. O ser humano é um mal a ser combatido, sobretudo se ele se encontra do outro lado do Rubicão ideológico.
A ideologia é como o rei do inferno de Dante: é de onde procede todo o mal, dividindo-se em três faces na mesma cabeça, uma na fronte, toda vermelha, e as outras duas brotando dos ombros, uma à direita e outra à esquerda. Asas semelhantes às de morcegos produziam ventos que congelavam as águas do Cocito; gelo que paralisa toda e qualquer iniciativa humana, e torna o indivíduo um prisioneiro de um messianismo coletivista. Os feridos vão ficando pelo caminho, porque nada pode impedirou prejudicar a causa. Como dizia Camus, no seu O homem revoltado, “para combater o mal, o revoltado, que se julga inocente, renuncia ao bem. O herói romântico faz uma confusão profunda e, por assim dizer, religiosa, entre o bem e o mal”. Portanto, continua, esse herói romântico sente-se “obrigado a fazer o mal por nostalgia de um bem impossível”. Passa-se a desprezar a misericórdia e a justiça e, motivado pelo ódio, passa-se a desejar a morte dos adversários.
Mas ainda que caminhemos na selva escura, por caminhos dispersos e tortuosos do barbarismo, nada impede de retomarmos a razão, de escalarmos, como Dante e Virgílio, as costas geladas do próprio demônio, agarrando-se à sua couraça aveludada até alcançar a montanha e, depois do precipício, encontrar a saída na fenda daquele riachinho, onde entraram, primeiro Virgílio e depois Dante, que aos poucos foram vendo surgir todas as coisas belas que apontam para o céu. E por ali mesmo saíram para rever as estrelas.
A quem interessar nas outras 158 páginas:
O que restou da política
Diogo Chiuso
Editora Noétika, 2022
160 páginas
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A quem está em dúvida o livro é excelente!
O Sleeping Giant fez campanha pela desmonetização da página do Peninha? Não que eu saiba.