#NaGôndolaDoMainardi: Homenagem a Francis
Paulo Francis ensinou a Diogo que deixar o Brasil também podia ser um gesto de liberdade intelectual
O Neim está republicando as crônicas que Mainardi escreveu para a revista Veja – e que a revista, curiosamente, excluiu do seu site.
Homenagem a Francis
(publicado em 29 março de 2000 - Veja, ed. 1642)
Como acontece todos os anos, os cariocas debocharam do Carnaval paulistano. O prefeito do Rio de Janeiro saiu na frente. Depois, veio o governador. Trata-se de disputa eleitoreira, claro. Esse bairrismo de botequim lhes rende votos. O problema é que os carnavalescos paulistanos caíram na armadilha e se sentiram no dever de responder. Mas responder o quê? Uma das poucas vantagens de São Paulo em relação ao Rio é, justamente, não ter Carnaval.
Eu nasci e cresci em São Paulo. Se me obrigassem a morar em alguma cidade brasileira, no entanto, acho que escolheria o Rio. Eu gosto de praia. E gosto, particularmente, das praias cariocas, com picolé, tapioca, coco verde, frescobol, esgoto a céu aberto e aquelas ondas fortes que vivem dando caldo na gente. Mas, já que ninguém me obriga a morar no Brasil, decidi morar na Itália, em Veneza. É a cidade perfeita para mim. Porque é o exato contrário de São Paulo. Em São Paulo, eu sentia que tudo era familiar demais, que minhas escolhas eram automáticas, mecânicas. Vindo para um lugar como Veneza, tive de repensar toda a minha vida, adaptando-me conscientemente a essa nova realidade, refletindo a respeito de cada ação.




