#naoeassinante: Bolsolulismo e a Teologia Republicana
Lula e Bolsonaro são apenas o capítulo mais recente de uma luta milenar que nos consome há séculos
*Por Renato Corrêa
De acordo com a pesquisa divulgada pelo instituto Paraná Pesquisas, em uma eventual disputa eleitoral pela Presidência da República, Lula e Bolsonaro lideram as intenções de votos com números parecidos aos da eleição de 2022. Com isso em mente, a pergunta que surge para o leitor do NEIM é: após tantos erros e escândalos nos mandatos anteriores dos dois políticos, por que ambos continuam como as opções preferidas para grande parte da população?
A princípio, Lula e Bolsonaro se vendem como protagonistas de movimentos distintos; um olhar atento, contudo, demonstra que ainda que seus objetivos sejam diferentes de fato, seus métodos e atitudes são, por outro lado, semelhantes e é nessa semelhança - ou melhor, no que ela representa - que reside a explicação para popularidade do bolsolulismo.
Para entendermos isso, partamos para a teoria da ferradura do francês Jean Pierre Faye, que afirma que o espectro esquerda-direita não é linear contínuo, e seus extremos (tanto à direita quanto à esquerda) acabam se aproximando e quase se tocando como se numa forma de ferradura. Segundo Faye, os extremistas de ambos os lados se aproximam ao compartilharem métodos como violência política, estatismo e autoritarismo.
Sob essa ótica, podemos colocar Lula numa ponta da ferradura e Bolsonaro em outra, os dois quase se tocando e não porque um seja de extrema esquerda e o outro de extrema direita. Afinal, Lula não é comunista nem Bolsonaro nazista, ainda que sejam xingados assim por seus adversários políticos. O que aproxima Lula de Bolsonaro é o mesmo que também os aproxima de todas as elites que governaram o Brasil desde 1889: a crença religiosa de que a política pode promover mudanças na condição humana e que a violência estatal é parte do repertório político para viabilizar o aprimoramento social, o que explica a tiranofilia histórica dos nossos governantes.