#naoéassinante: Demócrito Liga Os Pontos
Só os filósofos antigos podem explicar os nossos tristes tempos?
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*Por Lais Boveto
Um dia, Hipócrates de Cós recebe um chamado dos abderitas que clamavam pela saúde de Demócrito. O grande sábio estava louco. Cada dia mais afastado de seus concidadãos, Demócrito ficou doente. Ria de forma extravagante e inconveniente de todas as situações.
“Ah! Como as coisas boas também se tornam doentias pelo excesso”, afirmava um representante de Abdera em carta enviada à Hipócrates. “Tanto é que Demócrito chegou ao ápice da sabedoria, e agora corre o risco de uma paralisia do pensamento [dianoia]. Ele pode ser afetado pela estupidez. Outros tantos e muitos abderitas, os quais permaneciam alheios ao conhecimento, mantém-se com o intelecto sadio, só que agora eles se tornaram mais inteligentes, pois distinguem a doença de um sábio, eles que antes eram ignorantes”.
Os abderitas compadecidos com a doença de seu grande sábio, consideravam que era o excesso de conhecimento que o havia enlouquecido. Preocupavam-se com sua própria reputação e temiam que os costumes da cidade também adoecessem. Imploravam a presença do ilustre filho de Asclépio para salvar, não só o sábio Demócrito, mas toda a cidade.
Diante de tantas súplicas, Hipócrates navegou até Abdera. Quando encontrou com Demócrito, para avaliar sua saúde, observou que ele estava a escrever, justamente, um tratado sobre a loucura. A loucura, como ele observava em seus experimentos com animais dissecados, era causada pela imoderação da bile, que existe em todos os homens, mas, quando em excesso, passa a dominá-los por completo. Hipócrates se surpreende com a prudência nas palavras de Demócrito, mas ainda tem dúvidas em relação à extravagância de suas risadas, desmedidas para as circunstâncias. Ao ser indagado a respeito de seu comportamento, o sábio discorre longamente sobre os motivos que o levavam a rir tanto.