#NãoÉAssunto - O crime organizado quer a sua internet
Mas vai se tornar: o avanço do narconegócio sobre os provedores de internet - e sobre sua vida, leitor - ganhou o Fantástico.
O Fantástico de hoje (13/04/2025) vai abordar aquele que deveria ser o assunto nº 1 do país há tempos: o avanço do narconegócio sobre a iniciativa privada. No caso abordado, sobre os pequenos provedores de internet no Ceará, Pará e, como não poderia deixar de ser, no Rio de Janeiro.
Há anos que essa “nova categoria econômica” – o narconegócio – vem se especializando na tomada de territórios em zonas urbanas e rurais, como forma de diversificação de investimentos. Os traficantes, vejam só, descobriram que podem lucrar muito mais com produtos como pão francês, gasolina, gás engarrafado e sinal de internet, do que com as tradicionais maconha, cocaína e crack. E, de quebra, adquirindo poder político total nas populações sob o seu tacão.
Na investigação do jornalista Carlos de Lannoy, o foco são os pequenos provedores de internet, que, segundo a Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (ABRINT), hoje é responsável pelo fornecimento de mais de 50% da banda larga no país. São estas empresas que fazem a internet chegar nos pontos mais distantes do Brasil, permitindo não só que as pessoas destes lugares tenham acesso à rede, mas também estudem, trabalhem e empreendam.
Nos últimos anos, o Brasil tem sido palco de uma escalada alarmante de violência e sabotagem contra esses provedores regionais de internet, um fenômeno que vai muito além de meros atos de vandalismo ou criminalidade comum. O que está em curso é a consolidação de um narcoestado, no qual as facções criminosas exercem controle territorial, econômico e, cada vez mais, digital. O caso da GPX Telecom, que no mês passado encerrou suas atividades após ter sua infraestrutura completamente destruída por criminosos, e cujo comunicado não é um evento isolado, mas uma peça fundamental na prova de que o crime organizado dita as regras dentro do país – e o Estado assiste, impotente.
O conceito de narcoestado se refere a um país onde o crime organizado tem influência direta sobre setores estratégicos da sociedade, corrompendo instituições, ditando políticas e explorando a infraestrutura pública e privada para seus próprios interesses. Ironicamente, o Brasil já preenche todos esses requisitos, e os recentes ataques às telecomunicações são mais uma faceta desse domínio. Mais um “check” em nossa lista de desgraças.
O caso do provedor que operava há quase uma década em Caucaia, no Ceará, mostra como grupos criminosos passaram a tratar a infraestrutura de internet como parte de seu território. Em apenas 20 minutos, sua rede foi completamente destruída. Não restou um único cabo de fibra óptica para contar história. Esse ataque não foi aleatório: ele segue um padrão de coerção, intimidação e dominação, no qual facções criminosas exigem pedágios para permitir que empresas de internet operem ou simplesmente destroem aquelas que não se submetem.
Eis a verdade que muita gente tem medo de dizer em voz alta: o Comando Vermelho e outras facções já perceberam que a internet é um dos ativos mais valiosos do século 21. Ao controlar redes clandestinas de telecomunicações, eles ampliam sua influência, garantindo que apenas aqueles que pagam sua “taxa de segurança” possam operar. Isso transforma a conectividade em um recurso monopolizado pelo crime, em detrimento da população e da economia local.
A Terra Brasilis, gigante por sua própria inércia, permitiu que sua infraestrutura digital fosse tomada por esses grupos. É inacreditável, mas é verdade. A destruição de provedores regionais não é apenas um problema econômico – é uma forma de censura indireta, onde criminosos decidem quem pode ter acesso à informação e em quais condições. As consequências são graves, e eu vou citar apenas quatro:
Empresas e empreendedores perdem a capacidade de operar digitalmente;
Estudantes e trabalhadores remotos ficam sem acesso à internet;
O crime organizado lucra com redes clandestinas e novos modelos de extorsão;
Usuários que recorrem a essas redes ilegais se tornam vítimas de roubo de dados, golpes financeiros e sequestro digital.
Quando criminosos impõem regras de operação às telecomunicações, fica claro que o poder formal do Estado é insuficiente para garantir o funcionamento de um serviço essencial. Um país onde facções criminosas têm mais influência do que órgãos reguladores e forças de segurança é, por definição, um narcoestado. Pegou a visão?
Enquanto isso, as autoridades parecem mais preocupadas em responsabilizar provedores que pagam taxas de extorsão para sobreviver do que em combater as facções que impõem essas cobranças. Em outras palavras, o Brasil virou um território onde o crime dita as regras, e empresários do setor de telecomunicações se veem diante de um dilema impossível: ceder ao crime ou ser destruídos.
Uma coisa é certa: se o Brasil continuar nesse caminho, veremos um cenário onde o crime organizado assume completamente o controle da conectividade, fornece “serviços” de internet clandestinos, lucra com a exploração de dados e a espionagem digital, além de expandir ainda mais seu domínio territorial.
A falha estrutural em garantir a segurança da infraestrutura digital do país é mais uma prova de que o narcoestado brasileiro não se limita mais ao tráfico de drogas ou armas – agora, ele controla até mesmo o fluxo de informações.
A pergunta que resta é: quanto tempo até que nenhuma empresa de telecomunicações possa operar sem a “autorização” de facções criminosas? No ritmo em que estamos, se isso acontecer nas próximas horas, honestamente, eu não me chocaria…
Apenas para reflexão: será que podemos tratar o Estado brasileiro como mero espectador? Estamos sendo ingênuos? Não seria um parceiro eventual ou mesmo fiel do crime organizado? Basta dar uma olhadela nos nosso políticos, juízes etc.
Tenho dúvidas sobre se o Estado assiste impotente ou se participa ativamente...