Olá, Karl. Como você está?
Vivo, ou como diz o Coelho Branco, de Lewis Carroll: preocupado com o tempo e sempre ansioso. Isto é, correndo para concluir mais uma tradução, continuar um romance que comecei a escrever no ano passado e, o mais angustiante, tentando pagar contas e sanar dívidas.
Por acaso a sua infância foi deliciosamente corrompida por Walt Disney?
Não. Na verdade, as revistinhas de Walt Disney eram raras na época da minha infância na capital do Piauí. Além disso, meu pai, um comunista da velha guarda, preferia que lêssemos as obras de Monteiro Lobato, de Hans Christian Andersen ou dos irmãos Grimm, que foram minha leitura favorita na infância. Gostava especialmente dos contos de terror com demônios ávidos por comprar almas e enganar trouxas. Em contos, como “O Rei da Barba”, que conta a história de um rei que se casa com uma mulher nova a cada dia ou ficaria velho e desfigurado como sua primeira esposa, só fui perceber seus elementos sugestivos mais tarde, nas releituras de todos os contos deles ao longo da vida. A propósito, considerando o ambiente atual, é provável que em breve contos como esses sejam censurados dos livros, sob a alegação de serem ofensivos e misóginos.
Quais são as memórias que você tem da sua infância? E, por favor, não se esqueça das empregadas.