#NarrativasEstatísticas
Quem sente fome não se alimenta de democracia, muito menos de narrativas
A mais recente edição do Democracy Report 2025, produzida pelo V-Dem Institute da Universidade de Gothemburg, oferece um panorama razoavelmente confiável sobre o estado da democracia no mundo. Baseado em uma ampla base de dados e avaliações sistemáticas feitas por milhares de especialistas em diversos países, o relatório aponta uma redução global das democracias.
O documento afirma que, pela primeira vez em mais de vinte anos, existem mais autocracias do que democracias no mundo. Cerca de 72% da população global vive sob regimes que restringem liberdades fundamentais.
O Brasil aparece no relatório como uma "democracia eleitoral" que, após um período de declínio (adivinhem qual), estaria atualmente passando por um processo de recuperação. Essa classificação se dá dentro de uma distinção central no relatório: a que separa democracias eleitorais de democracias liberais.
As democracias eleitorais seriam aquelas em que há eleições competitivas, com alternância de poder e regras mínimas de participação garantida. Já as democracias liberais se caracterizariam por um conjunto de garantias além das eleições: liberdade de expressão ampla, proteção das minorias, separação de poderes, independência do Judiciário e atuação livre da imprensa.
No caso do Brasil, o relatório reconhece um período de deterioração – como não poderia deixar de ser – entre 2015 e 2022, e sugere que, desde então, há um movimento de estabilização e até leve recuperação – sim, atribuída ao governo que hoje assistimos. O Brasil estaria na “contramão do mundo”, num sentido não pejorativo!
Vale observar que os dados que sustentam o relatório são obtidos a partir de uma metodologia influenciada sobretudo por interpretações feitas por especialistas dos países avaliados. As respostas que alimentam o banco de dados do V-Dem passam por processos de validação estatística e comparação internacional, mas dependem da forma como os contextos são lidos por quem os analisa. E é aí que, cada dia mais, nossa tragédia se manifesta e, talvez, nem seja culpa do mensageiro, nesse caso o V-Dem.
Os especialistas convidados tendem a vir do meio acadêmico, ONGs, setor público, mídia independente. No Brasil, todos, quase invariavelmente, mais alinhados com a esquerda. Portanto, a avaliação do que é “ameaça à democracia” não é lá muito confiável. Mesmo com revisão cruzada, há espaço para que uma percepção particular seja tomada como fato.
Um exemplo que deixa ainda mais óbvias a influência dessas percepções nas pesquisas mundiais foram as manchetes de que o Brasil saiu do mapa da fome da ONU. A reportagem da BBC apontou:
A melhoria coincide com a volta do Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder – e as políticas sociais que são bandeira do presidente Lula. O Bolsa Família foi reinstituído. No triênio 2021-2023, segundo os dados da ONU, a proporção de subalimentados foi de 3,9%. E, agora, nos dados divulgados na última segunda, compreendendo o período de 2022 a 2024, novamente o país saiu do Mapa da Fome.
"Sair do chamado Mapa da Fome após três anos é talvez a maior conquista desse governo Lula 3º", avalia Salvarani. "Em primeiro lugar porque constata que o Brasil regrediu socialmente no governo Bolsonaro ao voltar pro Mapa da Fome, demonstrando a elevação do nível da miséria nos últimos anos. Mas, em seguida, evidenciou a eficácia das políticas públicas de combate à fome no Brasil do governo do petista. Isso não é pouca coisa." Para o sociólogo Salvarani, a melhoria do cenário não é apenas resultado da recuperação pós-pandemia.
Esse imenso “otimismo” do “especialista” em relação ao governo Lula não só não corresponde ao que vemos nas atitudes do governo, como não considera todos os dados das tabelas apresentadas no próprio documento da ONU. Porém, é o destaque da maioria dos jornais e até mesmo do Relatório produzido.
Em 20 anos de governo petista o Brasil se manteve ao lado de países extremamente pobres, em situação de guerra, oscilando no Mapa da Fome. Em 2014, por muito pouco, saiu da estatística e só retornou durante a pandemia. Mas, nas avaliações, o problema é atribuido à regressão promovida por Bolsonaro – que, por pior que tenha sido, esteve por 4 anos num governo que teve de lidar com pandemia e guerra na Ucrânia. Ou seja, não são fatos, são percepções que predominam.
Fora as inúmeras demonstrações de imparcialidade que a ONU manifesta, a principal fonte de dados para a formulação do Mapa da Fome é o IBGE administrado por Marcio Pochmann. O que dispensa comentários.
Portanto, em meio às nuances perdidas em nome de agradar um ou atacar outro, mesmo se considerarmos que um instituto faça um trabalho sério, como confiar nos dados que produzimos hoje no Brasil?
Mesmo que as informações sejam coletadas por institutos bem-intencionados, que desejam expressar da melhor maneira possível os fatos, contamos com uma imensa massa de intelectuais dispostos a considerar só o que apoia o seu conceito favorito. Eles ignoram fatos contrários e caçam somente dados suficientes para que as pesquisas se tornem uma arma partidária, um instrumento de ataque ou de defesa. A realidade de quem passa fome ou é preso por opinião política não importa. E depois vão chamar de deploráveis, fascistas ou antidemocráticos aqueles que votam em qualquer pessoa que se apresente teatral e veementemente contrária a estas narrativas...
O Bananal é uma democracia renascendo, e quem discordar mando para a Papuda por 17 anos para repensar sua opinião... democraticamente 😎
Só tenho uma coisa a dizer a esses "analistas" da ONU: Pimenta no kuh dos outros é refresco!