#NaVertigemDaPoesia
Uma conversa com Ferreira Gullar elogiada (e citada) por Antonio Cícero
A republicação desta entrevista com Ferreira Gullar é uma homenagem a Antonio Cícero, falecido ontem.
Por quê? Por um motivo simples: ele a citou constantemente em um de seus últimos livros, o volume de ensaios A Poesia e a Crítica, lançado em 2017.
Quando descobri isso, fiquei surpreso - e feliz. Cícero poderia ter praticado algo que muitos dos seus pares fazem no Brasil: o de colocar tudo no “cone do silêncio” (saudades, Agente 86).
Explico-me: a entrevista com Gullar saiu na revista Dicta&Contradicta, que, em meados de 2010, era a única revista cultural que ia na contramão do que a imprensa tentava (e ainda tenta) impor na cabeça das pessoas: uma pauta progressista, amorfa, incapaz de atiçar qualquer curiosidade pelas coisas que realmente importam.
Portanto, Cícero, que sem dúvida também fazia parte deste “círculo dos sábios”, poderia ter deixado de lado a entrevista. Mas ele viu a importância dela: foi uma das últimas conversas completas com um dos maiores poetas brasileiros do século passado, antes de falecer em 2016 (a matéria saiu em 2010). E seu assunto primordial foi nada mais, nada menos que a obra poética de Gullar.
Não à toa, citou o diálogo diversas vezes em seu livro - o que considero como uma prova de que, naquela época, a Dicta&Contradicta fez um belo trabalho (algo semelhante ao que tentamos fazer aqui no NEIM).
Nunca conheci Antonio Cícero (ele também escreveria para a revista, no número 09, mas eu não era mais editor dela); porém, tinha lido vários poemas seus (que sempre achei razoáveis) e gostei muito de um outro volume seu, Poesia e Filosofia, composto por insights interessantes. Em A Poesia e a Crítica, além de três textos sobre Gullar, há também um ensaio longo sobre Friedrich Hölderlin que é simplesmente uma das melhores coisas que já li sobre o vate da Suábia.
Enfim: com a morte de Cícero, desaparece também um tipo de intelectual raro nessas bandas - aquele que, independente das posições estéticas e políticas, prezava a honestidade acima de tudo. Fará falta.
Abaixo, a entrevista com um grande poeta, Ferreira Gullar, que, de uma forma misteriosa, aproximou este pobre escriba com um escritor de primeira linha.