O leitor millenial do NEIM não deve mais se lembrar, mas nos anos 1980 havia uma série de filmes sobre os bastidores do jornalismo, uma consequência do sucesso de clássicos como Rede de Notícias, de Sidney Lumet, e Todos os Homens do Presidente, de Alan J. Pakula.
Entre esses outros subprodutos, havia um enlatado chamado Nos Bastidores da Notícia, dirigido por James L. Brooks e estrelando um saudoso William Hurt.
Foi o que o estagiário se recordou ao ler o perfil sobre Ali Kamel publicado na Revista Piauí nesta semana.
Vamos direto ao ponto: o texto é bom, faz uma imersão interessante no mundo da notícia tupiniquim e, de quebra, mostra quem é essa figura enigmática que é Kamel.
No fim, ele se sai muito bem. É quase um santo que vive em função do jornalismo. Entre mortos e feridos, suas ações são todas corretas, mesmo quando cometeu algum erro (como, por exemplo, ao cair na armadilha do caso Marielle Franco, preparada por bolsonaristas).
Contudo, o melhor momento da matéria é o que foi registrado no print abaixo, em um diálogo entre Kamel e Sílvia Faria, seu braço-direito (a Piauí resolveu fechar o texto para assinantes, o que indica a sua incrível vontade para se manter irrelevante):
“Isso aqui não é vida”, disse uma das pessoas mais poderosas do jornalismo brasileiro. Você leu corretamente. Não é equívoco, não.
Se a situação está assim entre os gigantes, imagine entre os peixinhos, meu querido leitor do NEIM.
Obrigada, NEIM, por nos poupar a náusea da leitura da Piauí.
Já há muitos anos, um livro de Kamel foi um bom ponto de partida para a formação de senso crítico sobre algo que então engatinhava e hoje engole o distinto público: “Não Somos Racistas — Uma reação aos que querem nos transformar numa nação bicolor”. A surpresa, de certa forma, é o jornalismo sob sua batuta fazer há décadas justamente o que ele pessoalmente criticava.