Alien: Romulus é uma legacy sequel, mas não inteiramente. É despropositado compará-lo com filmes como Star Wars: O Despertar da Força, ou Jurassic World. Legacy sequels são, em essência, reboots. No entanto, ao invés de simplesmente refilmarem os originais, os executivos de estúdios - tal como os cientistas de Jurassic Park - encontraram um caminho evolutivo que fica entre a refilmagem e a continuação. Mas o que fazer com Alien?
Como é evidente, cada filme já em si uma refilmagem. Sempre foi. O segredo era entregar as chaves da franquia para um cineasta inexperiente que, no entanto, podia testar sua visão com os elementos da franquia. Alien sempre foi um excelente playground para diretores, pois é uma caixinha de brinquedos que demanda inventividade visual, tanto na direção de arte quanto na de fotografia, na direção de atores, com elencos inusitados e, principalmente, oferecendo uma trama simples mas complexa, e cuja eficiência já foi repetidas vezes testada pelo tempo. Ridley Scott, James Cameron, David Fincher, Jean Pierre Jeunet: todos cineastas gabaritados e reconhecidos. Goste-se ou não deles, é inegável que sejam extremamente bem-sucedidos e que possuam uma voz autoral inconfundível. Ou seja: exatamente as características e qualidades que aterrorizam os executivos de estúdios na Era das Franquias. Vivemos uma época em que os cineastas preferidos dos executivos são yes men como os Irmãos Russo, Peyton Reed, Shawn Levy, Louis Leterrier, Jon Watts. Vivemos uma época em que cineastas que possuem uma visão são submetidos a processos humilhantes de refilmagens e ingerência criativa. Falo aqui do que ocorreu de diretores como Lord & Miller, Gareth Edwards, Sam Mendes, Josh Trank, David Ayer e Zack Snyder. É verdade que, quanto a esses dois últimos, por mais que tenha ojeriza aos seus trabalhos, é inegável que eles foram tripudiados por uma cadre de executivos inseguros e incompetentes, que não sabem o que fazer com os filmes que produzem. Resumidamente, Hollywood passa por uma fase que é absolutamente hostil à criatividade, e tipos como Christopher Nolan e James Gunn são cada vez mais avis rara. Não é à toa que Quentin Tarantino tenha proclamado - com razão - que vivemos uma das piores eras do cinema americano, uma que é comparável ao que a indústria passou nos anos 50 e início dos anos 60.
Por isso que Romulus era um filme complicado de dar certo. Se por um lado ele precisa se inserir na continuidade da franquia, abarcando as narrativas de Prometheus e Covenant com os filmes dos anos 70, 80 e 90, ele também precisa dar conta dos diferentes estilos e gêneros (horror, ação, noir, paródia). Isso por que, assim como O Despertar da Força, Romulus precisa condensar a franquia em seus elementos essenciais, fazendo tabula rasa deles, para que novos filmes e séries sejam realizados. Esse é o único ponto de contato de Romulus com O Despertar da Força e outras legacy sequels dos últimos anos. É por isso que por vezes o filme tem um aspecto de check list, do que entendemos que um filme da franquia Alien “precisa” ter:
Precisa ter uma protagonista feminina forte e determinada, mas que também tenha suas fraquezas e deficiências;
Precisa ter a Companhia, vulgo Weyland-Yutani, na forma de uma Inteligência Artificial como o computador MOTHER e/ou um andróide traidor;
Precisa ter uma cena com o chestbuster;
Precisa ter sangue ácido;
Precisa ter uma trama com contagem regressiva: a nave ou estação espacial ou colônia vai explodir, ou ser completamente destruída;
Precisa ter uma trama onde personagens saem de um mundo real para um de horror cósmico;
Precisa ter a apresentação de algum feature ou tecnologia própria do filme (como, no caso, os andróides, ou o armamento no segundo filme);
Precisa ter a introdução de uma criatura nova ou variante da original;
Conexão com Alien (1979): precisa ter horror e suspense em um ritmo mais deliberado;
Conexão com Aliens (1986): precisa ter uma cena de ação onde vários xenomorphos atacam os personagens.
No contexto da temática, podemos dizer os filmes da franquia lidam com temas como: maternidade; reprodução; feminilidade; medo do desconhecido; exploração espacial; religiosidade; o papel da humanidade no cosmos; o horror do estranho e do corpo humano; militarismo; capitalismo selvagem; inteligência artificial; robótica; existencialismo; sacrifício; apocalipse.