O primeiro parágrafo do texto assinado por Patrícia Campos Mello, a autora do livro A Máquina do Ódio, não deixa dúvida acerca do tamanho do problema que a imprensa brasileira enfrenta nos dias de hoje:
Quase metade dos brasileiros evita ler ou assistir ao noticiário às vezes ou sempre, indica o Relatório de Mídia Digital do Instituto Reuters, divulgado nesta segunda-feira (17).
A constatação acima é a prova inequívoca de que o jornalismo brasileiro, antes de ser odiado, é evitado pelo público. As pessoas preferem outras atividades, para além de se irritar com o noticiário político, cultural ou esportivo. Para elas, é como se a perspectiva de estar informado para participar de uma conversa, ou mesmo estar informado, não passa mais pela imprensa:
"Cada vez mais o público está recorrendo a plataformas para acessar conteúdo e informação. Muitas dessas plataformas, no entanto, estão se afastando de notícias e veículos de mídia, e focando outros tipos de conteúdo", diz Rasmus Nielsen, diretor do Instituto Reuters.
Anos de complacência e de oferta de conteúdo gratuito também criaram na audiência a ideia de que pagar pelo noticiário é bobagem – e olha que, nesse caso em específico, o relatório da Reuters se refere exclusivamente ao cenário fora do Brasil:
A disposição das pessoas de pagar por notícias online continua baixa. Levantamento em 20 países —o Brasil não aparece na lista— indica que apenas 17% dos entrevistados afirmam ter pagado por notícias no ano anterior.
O índice é maior em países como Noruega (40%) e Suécia (31%) e menor no Japão (9%) e Reino Unido (8%). Ainda assim, boa parte dos entrevistados (41%) afirma que está pagando menos do que o preço integral das assinaturas, aproveitando-se de promoções.
Enquanto isso, na mesma Folha de S.Paulo, o colunista e soi-disant guru digital Ronaldo Lemos alerta para o fenômeno que chama de pink press:
Uma nova cor aparece para designar um novo tipo de imprensa sem qualquer compromisso com a ética. Dessa vez a cor é o "rosa". Para ser preciso, o termo em inglês é "pink slime press" (impressa da gosma rosa). O termo se refere àquele tipo de carne ultraprocessada industrialmente vendida em lata, que tem aparência rósea e valor nutritivo miserável.