#NuncaFoiProduto
Um texto do comediante Oscar Filho sobre a incompetência do nosso cinema na hora de vender um filme
Por Oscar Filho
É impressionante como são poucos os filmes brasileiros que fazem parte do consciente coletivo.
Se eu pedir para você, leitor, citar três filmes, muito provavelmente serão os mesmos que seus amigos ou familiares vão lembrar: Cidade de Deus, Tropa de Elite, Central do Brasil. Não necessariamente nesta ordem...
Claro, o Brasil é capaz de fazer ótimos filmes como Que Horas Ela Volta (2015), Aquarius (2016) e A Vida Invisível(2019), entre outros, obviamente.
Nem vou citar O Auto da Compadecida porque ele sequer é um filme, mas sim uma série de quatro episódios, muito melhor que o filme que é o resultado dessas quatro partes condensadas em duas horas para poder ir aos cinemas e ganhar um pouco mais de dinheiro.
Mas o cinema brasileiro enfrenta uma dificuldade latente: os filmes não caem no imaginário do brasileiro. Não conseguimos fazer sequer um bom filme por ano.
E um dos motivos, entre vários, é o marketing. Não encaramos o cinema como mercado e, por consequência, não sabemos vender nosso produto.
Exemplo atual: Ainda Estou Aqui. Você assistiu ao filme? É espetacular sob vários pontos de vista: roteiro, direção, produção, trilha sonora, elenco, fotografia... Mas você teve a oportunidade de assistir ao trailer? Não? Então assista:
Não diz nada, não te instiga, não gera curiosidade, é completamente insosso. Não dá vontade de assistir. Um trailer precisa ser encarado como uma isca para fisgar o público no mar de filmes ruins que temos hoje em dia. E isso não acontece justamente porque não encaramos o nosso cinema como mercado, como produto.
O filme de Walter Salles ganhou grande repercussão internacional, e queriam que ele representasse o país no Oscar.
Para isso, o filme precisa ficar em cartaz nos cinemas americanos.
Para ficar em cartaz nos cinemas americanos, precisam fazer um marketing sobre o filme.
Portanto, precisariam de um trailer que faça os americanos ou brasileiros residentes saírem de casa para ir aos cinemas.
Alguma agência americana viu o trailer nacional e disse: "Deixa que eu faço melhor."
Assista ao trailer gringo e me diga qual te faria gastar dinheiro no cinema:
Ainda bem que o filme é muito melhor que o trailer!
O Brasil não encara o cinema como produto!
Oscar Filho é um apresentador, ator, repórter, humorista, escritor e empresário brasileiro, duas vezes indicado ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.
"Se eu pedir pra você leitor citar três, muito provavelmente serão os mesmos que seus amigos ou familiares vão lembrar:Cidade de Deus, Tropa de Elite, Central do Brasil. Não necessariamente nesta ordem..."-Errado : "Os Trapalhões na Serra Pelada","Jeca Tatu" e "O Bem dotado Homem de Itú"
Não sou cinéfilo.
A última vez que me propús a sair de casa foi para ver homem de ferro, em seu mês de lançamento.
Uma vez um personagem do Youtube disse que cineastas fazem filmes para outros cineastas.
Olhando o trailer brasileiro, concordo com ele e ao ver o trailer americano, fiquei com vontade de ir no cinema.
Uma gestora de fundo de investimento diz que o Brasil está num eterno dia da marmota, em referência ao filme "O feitiço do tempo" em que a pessoa acordava sempre no mesmo dia.
Tem tanto assunto para um Brasil dos anos 30 do século 21 contar em um filme e o cinema continua focando na ditadura militar.