#OAbismoDoDiscurso
Retórica política e o papel da desconfiança como ferramenta de oposição.
Vou confrontar o início dos dois vídeos. Farei uma análise imparcial das argumentações. Porém, demonstrarei que o ponto levantado por Nikolas Ferreira, goste dele ou não, apresenta razões retoricamente mais fortes do que os de Erika Hilton. Aqui, explorarei apenas o início de cada discurso.
Quem é pior: quem ameaça agir, mas recua, ou quem promete não agir e faz? Esse é o dilema inicial no confronto dos vídeos entre Erika e Nikolas sobre a taxação do PIX e as promessas do governo Lula.
Nikolas expõe um padrão. Afirma que o governo Lula diz uma coisa e faz outra. "A comprinha da China não seria taxada, foi. Não ia ter sigilo, mas teve. Você ia ser isento do imposto de renda, não vai mais. Ia ter picanha, não teve." Ele levanta uma desconfiança legítima (e, diga-se de passagem, desconfiança não é crime): "O governo quer saber como você ganha cinco mil reais e paga dez mil no cartão, mas não quer saber como quem ganha um salário-mínimo sobrevive com luz, moradia, educação e comida."
Eis é a essência da crítica. O governo foca em vigiar quem já vive no limite, enquanto ignora a precariedade cotidiana de milhões.
Erika reagiu. Acusa Nikolas, ou toda a extrema-direita, de usar mentiras para causar medo. Recorre a Paulo Guedes, do governo Bolsonaro, e alega, corretamente, que ele "sempre falou sobre taxar o PIX". No entanto, a história de Guedes, neste caso, merece um pouco mais de atenção (e que fique claro: não estou passando pano, apenas analisando os fatos). Guedes disse, sim, que cogitava taxar o PIX. Explicou os motivos e deixou clara suas razões. Porém, recuou e não implementou a proposta (aqui, para fins de argumentação, não importa os motivos).
Havia discurso, mas o ato nunca veio. Nesse caso, é mais crível alguém que cogita algo impopular e decide não fazer do que quem nega categoricamente, mas constrói precedentes que apontam o oposto. Esse é o ponto central. Erika desvia das contradições reais que Nikolas levanta. O governo Lula prometeu muito e cumpriu pouco. A confiança desmorona quando há um divórcio entre palavras e atos. Erika protege o discurso. Nikolas, mesmo com um tom alarmista — parte da retórica de ambos, diga-se de passagem —, expõe o histórico de atos que compromete o governo atual.
Ao insistir no discurso de Guedes, Erika abre uma brecha, a mesma que Nikolas explorou com habilidade: A DESCONFIANÇA. Não se trata apenas de afirmar que o PIX será taxado. Trata-se de usar o histórico do governo para alimentar o desconfortou da população. É uma estratégia retórica, obviamente, porque não depende de acusações diretas. Em vez disso, opera no terreno do "e se?".
Nikolas não precisou provar que o PIX será taxado. Na verdade, afirmou o contrário: “O PIX não será taxado, mas não duvido que possa ser”. O que fez foi lembrar ao público que outras promessas já foram quebradas. Ao conectar essas contradições passadas com o presente, construiu um cenário em que qualquer promessa do governo se torna, no mínimo, questionável. Isso é retórica política. Lula era mestre em fazer isso nos anos 80.
Erika, em vez de confrontar essa linha de raciocínio, escolheu uma resposta dramática, mais eficaz dentro da sua bolha. Algo como: “para se proteger, a extrema direita escondeu isso de você”. Isso fica evidente quando ela recorre ao termo "extrema-direita". Não é da gramática popular. O “você” — o auditório do ato retórico — não é o trabalhador. O termo vem do vocabulário político-acadêmico, carregado de conotações ideológicas. Seu uso não busca convencer quem está fora da bolha. É feito para reafirmar posições dentro dela. Um aceno aos aliados. Não uma resposta à crítica.
Por outro lado, o "você" — o auditório do ato retórico —de Nikolas é, justamente, o trabalhador comum. Aquele que sente no bolso o peso das decisões do governo e desconfia das elites políticas e intelectuais. Esse público quer apenas saber como sobreviver, como pagar as contas e por que o governo parece mais preocupado em vigiar pequenas movimentações financeiras do que em oferecer soluções práticas para os problemas cotidianos.
Razzo, gostei de sua analise.
Concordo com ela.
Nós os "sem bolha" continuaremos - Pelados, pelados, nú com a mão no bolso, Ad Eternum pagando impostos e sustentando os "Maledetos"
Estou errada?
Eu penso que os apoiadores do atual governo não deveriam ter feito um vídeo que se parecesse com o do Nikolas porque serviria para fazermos comparações e que você, Francisco Razão, fez brilhantemente e a sua conclusão foi, exatamente, o que nós, brasileiros de boa-fé, sentimos, DESCONFIANÇA.
O estrago já estava feito, então não adiantava mais querer argumentar diante do exposto pelo deputado Nikolas, ficou pior a emenda que o soneto como diz o dito popular.
É preciso saber quando a melhor estratégia é se calar porque o prejuízo para a popularidade do governo já havia acontecido e insistir em desqualificar o vídeo do Nikolas o acusando de fazer fake news e cometer crimes, quando não houve foi BURRICE!! O governo ficou ainda mais frágil!!