[Leia a quinta parte do ensaio]
*Por Vicente Renner
A linguagem do apocalipse
A primeira diferença entre Os Eternos e o que se esperava de Os Eternos é relativa ao “realismo” da história. Quando Edelman diz que os diálogos de Jack Kirby “não eram naturais”, ele está dizendo que as personagens do gibi não falavam como as pessoas falam na realidade. Quando Macchio se pergunta sobre a pertinência cronológica do gibi, ele está tentando enquadrá-lo dentro de uma objetividade pré-definida, formada pelo universo Marvel que “existe”. É como se ele estivesse discutindo a factualidade da história.
Quando Moench, finalmente, faz de “Man-Gods from Beyond the Stars” uma história com início, meio e fim, ele está tentando encontrar essa mesma factualidade. Está expondo as conexões lógicas que unem todas as ações retratadas na história. Ao fazê-lo em uma revista protagonizada por deuses que têm sentimentos humanos, ele está aproximando a sua história do leitor contemporâneo, de forma a permitir que ele reconheça a sua experiência naquela história.
Esse ponto de vista, no entanto, sofre de um grande problema: o seu caráter reducionista.
Esperar que Os Eternos seja um gibi “realista” naquele sentido não contempla, em primeiro lugar, aquilo que Kirby está tentando fazer, contar uma história apocalíptica.