Antes de atravessar o Atlântico, Alan Moore escreveu três gibis marcantes: V de Vingança, Marvelman e Capitão Britânia.
Capitão Britânia de Alan Moore, mesmo sendo o seu único trabalho-trabalho para a Marvel [ainda que através da sua subsidiária britânica, Marvel UK], é o mais ignorado. No entanto, das três séries também é a que melhor oferece um panorama da carreira de Moore dentro e fora das quatro linhas dos quadrinhos. De perto, é possível enxergar nessa série pedacinhos de gibis tão diferentes quanto D.R. & Quinch e Monstro do Pântano, Watchmen e The Birth Caul, além de tretas bizantinas que fizeram dele esse ermitão moderno.
Não é, no entanto, um panorama simples. A melhor forma que eu encontrei de expô-lo foi agrupando desmontando a série em pedaços para reagrupá-la em capítulos temáticos. Isso não está muito longe da forma que Moore começou a trabalhar na própria hq. E é essa técnica de approach que nós começamos a resenha:
DESTRUINDO IMPÉRIOS
“Thus destroyes topple empires;
make a canvas of clean rubble
where creators can then build
a better world”
[V de Vingança]
Na primeira página do Capitão Britânia Alan Moore, a 55 do encadernado da Panini, ele destruiu o universo paralelo em que o personagem estava [criado por Dave Thorpe, o roteirista anterior, cujas histórias também estão neste encadernado]. Na quarta [página 59], matou Jackdaw, o elfo chato que servia de Robin/alívio cômico para o Capitão. Na décima [65], ele pulverizou o próprio Capitão.
Como ele faria depois com o Monstro do Pântano, Moore destruiu o personagem para poder remontá-lo usando as mesmas peças de outra forma. Mas enquanto que o Monstro do Pântano foi morto e dissecado narrativamente, o Capitão foi morto e reconstruído — ainda que também narrativamente: na edição seguinte à de sua morte, Merlin, como uma versão análoga do próprio Moore, remonta o personagem.