#OChurchillDoClima?
Quando a imprensa não assume responsabilidade pelas loucuras que publica
O estagiário teve de esfregar os olhos para ter certeza de que não estava em delírio de sábado. Podia ser o calor, pensou; podia ser resquício do sono ressecado pelo ar desagradável na capital paulista; podia, por fim, ser um delírio provocado pela leitura rápida na tela.
Mas não. A página 2 da Folha, que traz Natalie Unterstell como convidada, diz o seguinte logo no título:
Lula pode ser o Churchill do clima?
É preciso ousadia do presidente, com uma adaptação acelerada para o Brasil
Então, é chegada a hora em que a história está sendo reescrita na maior cara-de-pau, e ninguém tem coragem de dizer, “Calma lá, senhora, a situação não é bem isso”. Mas sabem como é: o papel aceita tudo, e o colunismo político brasileiro acha que é de bom tom promover umas provocações desproporcionais para gerar engajamento, não só audiência. De maneira que acusar os veículos de sensacionalismo, como era prática do século XX, já não é suficiente. Agora, a intenção é provocar no leitor reações exageradas para ver se ele se importa.