“Paus e pedras podem quebrar meus ossos,/ mas as palavras não podem me machucar”.
De tempos em tempos, o mercado financeiro quer falar, mas sem necessariamente sujar a sua mão invisível. E é aí que aparece o Brazil Journal – para ser o mensageiro do apocalipse. O texto publicado ontem é uma espécie de aviso de que a situação não vai nada bem, muito pelo ao contrário. Aliás: segundo o Twitter e as manchetes de hoje nos portais, a bolha financeira sequer explodiu ou murchou. Ela simplesmente desapareceu.
Em editorial, a publicação dá o papo logo no título, que vem com a rubrica de que se trata de um editorial. Como sabe quem gosta de ler o Estadão, editorial é coisa séria (pena que, como cantaria Chorão, da banda Charlie Brown Jr., “o editorial no Brasil nunca é levado a sério”).
EDITORIAL. Reverter as expectativas com um choque de credibilidade
Já no título, o texto fala em algo que não cai bem nos idos de agosto: choque de credibilidade. Algo não está certo na conjuntura econômica do país, em que pesem os 30 anos do Plano Real e as medalhas conquistadas por Rebeca Andrade nos Jogos Olímpicos de Paris:
Se o Presidente Lula soubesse o nível de desânimo e desesperança que permeia o mundo empresarial, seu governo mudaria de rota.
Se o Presidente Lula entendesse o tamanho da oportunidade do Brasil neste momento, e como seu Governo está botando tudo a perder, ele mudaria de rota rapidamente.
A repetição dos começos dos parágrafos acima citados tem menos a ver com a capacidade do redator e mais com uma ênfase calculada do editorialista. Tal como anuncia o título, o governo, garante o texto, precisa mudar de rota. Os termos não são brandos: “desesperança que permeia o mundo empresarial” e “governo que está botando tudo a perder”:
Depois de ser eleito com o apoio decisivo do centro pragmático — aqueles 2% ou 3% do eleitorado que não morriam de amores por ele mas que o apoiaram para se livrar de Bolsonaro — o Presidente cometeu o erro político de achar que precisava continuar falando para sua base, como se sua sustentação no poder dependesse dela, e não da coalizão de oportunidade que o elegeu.
Este erro de avaliação lamentável se traduziu no que todos conhecemos: um Governo que briga com o Banco Central, vive reclamando do setor privado e só sabe fechar as contas taxando, taxando e taxando.
Parte do mercado financeiro acreditava que, com Alckmin na chapa e a coalizão à moda Vingadores: Ultimato, o governo Lula estava fadado ao sucesso inevitável: o país ia voltar aos trilhos; o grau de investimentos era questão de tempo; a economia ia bombar; e o presidente, um conservador na pele de um velhinho revolucionário, iria repetir a trajetória de Mandela na África do Sul ao unir o país.