A última mão ao inebriamento, de Giorgio Agamben, publicado há pouco pela editora Âyiné é daqueles bons livros que, como bons amigos, estão sempre presentes quando mais precisamos.
O tema do livro é o envelhecer, e o filósofo italiano irá meditar sobre a nossa finitude e como esta se torna tema e estilo de escritores, poetas e artistas que se depararam com o entardecer de suas vidas, que tomam consciência de que só lhes resta “professar e preservar uma fé e inspiração que não poderão ser compartilhadas”.
Há lucidez na velhice, diz Agamben, a lucidez de não mais pensar “nas coisas que irão sobreviver a ele e que ele terá que abandonar, mas naquelas que o abandonaram e que ele deve deixar para trás.”
Com aguda intuição, eis que percebemos que não apenas nós envelhecemos, mas também envelhecem “os tempos e as épocas […] Mas talvez hoje não haja mais tempo, o tempo morreu junto com Deus - como poderia ter sobrevivido a ela? Não existem mais épocas, e é essa exatamente a nossa condição”.
“Não existem mais épocas, e é essa exatamente a nossa condição”, eis algo para refletirmos quando notamos que hoje vivemos em uma cultura estagnada, que parece apenas reciclar e regurgitar o que se fez antes, o já feito e refeito, e avessa ao novo, incapaz de inspirar uma nova gênese.