#OEstadoNãoLibertará
Nada no mundo das ideias é direcionado para ser útil ao caos dos negócios humanos
“A capacidade da mente humana para inventar novos valores não é maior do que a de imaginar uma nova cor primária, ou, na verdade, a de criar um novo sol e um novo céu no qual ele se mova”
C. S. Lewis
Como é possível reconciliar liberdade com autoridade?
João Pereira Coutinho, em entrevista a este site, enfatizou que essa simples pergunta é, também, a mais complexa em toda a história do pensamento político.
Coutinho considera a perspectiva de Oakeshott, segundo a qual o fato de nascermos numa sociedade politicamente organizada, necessariamente, leva-nos a estabelecer relações com base em autoridade e obediência. Não há como renunciar a essa condição, ainda que as fantasias a esse respeito persistam. Contudo, também é preciso considerar, como afirma Coutinho, que “a experiência da individualidade é um fato que não é possível reverter”. O Estado, nesse sentido, não deveria impor “fins substantivos de vida àqueles que habitam a sociedade”, mas ser o guardião das normas que regem a vida em comum.
Em que medida as pessoas estão dispostas a exercer a liberdade e, ao mesmo tempo, subsumi-la à autoridade do Estado é um traço distintivo que pode revelar muito mais sobre o caráter da vida em sociedade, do que qualquer posicionamento ideológico ou partidário. É um traço que pode ser encontrado em vários momentos da filosofia e da política, mesmo quando liberdade e autoridade eram fatos naturais, sem uma formulação conceitual ou filosófica claramente estabelecida.
Essa reflexão, presente na obra de muitos autores do século XX, também foi realizada por Hannah Arendt, contemporânea de Oakeshott. Em seus ensaios, reunidos na obra Entre o passado e o futuro, a autora percebeu a importância de identificar as raízes da autoridade do Estado. Naquele momento do século XX, a perda geral dessa autoridade se manifestava com vigor. Iniciada no interior das relações políticas, essa erosão necessariamente resvalaria para a esfera privada e sua expressão mais radical poderia ser vista no âmbito que ela denominou de pré-político: a família e a escola. Nessas duas instâncias, a autoridade existia de forma natural e independia de condições históricas e políticas.