#OExílioDoMacho
Como a cultura woke transformou a ‘energia masculina’ em um retrocesso imaginário.
NUNCA VI NADA TÃO IDIOTA. Eles se superam cada dia. Só pode ser o desespero. Marcelo Lins transformou a expressão “energia masculina” de Zuckerberg em um símbolo de retrocesso civilizacional. Para completar o esquete, comparou a expressão a uma imaginável resistência contra a abolição. Lins é um fanfarrão seduzido pela própria voz. Nada como garantir o efeito performático. Esse pessoal não é pago para analisar, ganham bem para dramatizar.
Pessoalmente, não vejo em “energia masculina” um problema. É possível interpretar a expressão usada por Zuckerberg como um conceito psicológico, simbólico e até neurológico. Por exemplo, Leonard Sax, em Por que gênero importa?, demonstra que traços como assertividade, competitividade e foco são associados à masculinidade por razões que vão além da cultura. É uma possibilidade de interpretação. Ele apresenta uma série de estudos que mostram que cérebros de homens tendem à maior lateralização, o que favorece ações diretas e decisões mais rápidas, além da disposição para correr risco. Já os cérebros de mulheres apresentam maior conectividade entre os hemisférios, o que amplia empatia e comunicação. Até a percepção dos cinco sentidos muda entre cérebros de homens e mulheres.
Outra interpretação possível, mais simbólica, é a de Carl Jung e sua teoria dos arquétipos. Acho que Zuckerberg está mais alinhado a isso. Não que eu concorde com Jung, mas a ideia de “energia masculina” e “feminina” oferece uma chave interessante para entender a fala de Zuckerberg sem o escândalo performático dos “especialistas” em produzir fatos da imaginação.
Para Jung, essas energias são forças simbólicas presentes em todos nós. A energia masculina representa ação direta, lógica, estrutura e o impulso para a realização. Ela é movida pelo logos, pela busca de ordem e racionalidade. Já a energia feminina é receptiva, intuitiva, voltada à integração e ao cuidado. Movida pelo eros, ela privilegia conexões, adaptação e a harmonia do todo.
Essas energias refletem diferentes disposições para o agir. A masculina foca na superação de limites, na execução e no enfrentamento de desafios. A feminina, na criação de vínculos, na percepção das nuances e na manutenção do equilíbrio. O desafio está em integrá-las, unindo assertividade e empatia, estrutura e flexibilidade. Não são exclusivas de homens ou mulheres; são parte da totalidade da alma humana.
Como Zuckerberg (recém-frequentador do meio social do jiu-jítsu) está respondendo à cultura woke, sua fala pode ser interpretada como uma crítica ao ambiente corporativo que virou palco de discursos identitários. Em nome da inclusão, mérito, pragmatismo e eficiência foram subvertidos. A desconstrução de normas e a obsessão por diversidade criaram um ambiente de perseguição. Hierarquia, mérito e competitividade — associadas à “energia masculina” — foram demonizadas. “Energia masculina” soa, então, como reação a uma cultura que troca “ação” por “sensibilidades” e “ousadia” por “performance”.
Marcelo Lins preferiu ignorar tudo isso. Ao colocar “energia masculina” como símbolo de opressão, ele transformou um conceito simbólico, para diferenciar disposições, em uma bandeirola ideológica afetada. A comparação com a escravidão, além de desproporcional, é desrespeitosa. A escravidão foi uma tragédia histórica, um sistema de violência e exploração. Associá-la a uma discussão sobre traços psicológicos no ambiente corporativo é banalizar o sofrimento das vítimas e reduzir o debate ao absurdo. Para ser preciso e assertivo, Lins é burro. Para ser comunicativo e empático, digo que ele foi desrespeitoso.
Ouso admitir publicamente que, a meu ver, a reação contra o wokeism tem sido bem mais tolerante com os wokes do que o inverso.
Ele é burro se definido sob o prisma da energia feminina; sob o prisma da energia masculina ele é retardado.