Por Kovács
Bolsonaro, nos estertores do seu governo, teria traçado uma tentativa de golpe. Duvido muito: é um incapaz. Uso o futuro do pretérito porque a investigação está correndo e, por ora, há apenas indiciados. Deus me livre me indispor com a Justiça, essa com j maiúsculo e dourado, que anda dentuça nesta terra abandonada. Bolso e uns confrades teriam tentado mexer os pauzinhos para não deixar Lula assumir. Não duvido da veracidade da ideia em si; aliás, o amadorismo transparecido me convence de que houve algo, mas o Espírito do Deixa-disso, que nos caracteriza nas grandes questões — enquanto matamos por uma paçoca —, fez o golpe brochar. Essa tentativa de esboço de minuta de golpe surgiu num churrasco, aposto. Tem cara, jeito e cheiro de conversa que surge entre gente já cozida pela cerveja, de barriga cheia e dedos engordurados, que discute as maiores banalidades aos berros.
Imagino um churrasco na Granja do Torto. Bolsonaro, entediado e de ressaca pela derrota, chama a turma da caserna. Parodiando Figueiredo, Bolso deve preferir o cheiro das fardas suadas ao cheiro do povo; o falecido pelo menos tinha uma predileção pelos cavalos, animais nobres, e não a escondia. As pessoas não gostavam de Figueiredo porque ele não dourava a pílula; Bolsonaro, ao contrário, fala muita bobeira tentando agradar.
Militar brasileiro, além de amor visceral por privilégios e dinheiro, deve ter nostalgia do tempo em que mandava no país, mesmo que não tenha vivido os bons tempos. Ele tem mania de grandeza desde a Guerra do Paraguai, e essa mania nos levou às páginas mais inglórias da nossa história, como a proclamação da República, as revoltas tenentistas e o Golpe de 1964. Todos os momentos em que a caserna, ou parte dela, sentiu que era a sua hora histórica, para azar do resto, o caldo entornou.