#OGrandeZucchini
Enquanto meus amigos queriam ser os super-heróis de sempre, eu queria ser o Mandrake.
Por Adauban Pires
Desde pequeno sempre tive muita simpatia pelos mágicos. A toda festa de aniversário infantil mais caprichada que eu ia, secretamente sempre esperava encontrar um mágico. Nas raríssimas vezes em que tinha um, era uma satisfação. Diferente do palhaço, que era figurinha fácil do universo infantil, o mágico era alguém muito mais complexo: deslocado na festa, tanto pela roupa quanto pela aparente indiferença, parecia estar ali por engano. Enquanto o palhaço só queria agradar, o mágico vivia envolto em mistério, distante, com a cabeça em outro lugar. A conexão dele não era com a criançada, era com o mundo místico da magia, uma coisa muito mais importante. Achava curioso que meus amiguinhos não pensassem o mesmo.
Naquela época ainda tinha tirinha do Mandrake no jornal e fiquei muito feliz quando descobri que meu pai também era fã do mágico de cartola. Num domingo, percebendo a avidez com que eu aguardava a conclusão da sua leitura do segundo caderno (hábitos de outra época, quando jornal de domingo era um evento, e quando os filhos só lhe tinham acesso após a leitura dos pais), meu pai desatou a falar do mágico paladino treinado nas montanhas do Himalaia, residente em Xanadu, sua inexpugnável mansão em Nova York, auxiliado pelo Príncipe Lothar, o homem mais forte do mundo. Mais encantado que ver coelho sair de cartola foi presenciar toda aquela informação brotar de supetão da cachola do meu pai.