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Por que a imprensa brasileira sempre fica de quatro por Chico Buarque?
Os 80 anos de Chico Buarque - completados ontem - serviram para a imprensa mostrar seus instintos mais primitivos
As loas da imprensa nativa ao cantor, compositor e escritor são de fazer vergonha até mesmo aos fãs mais extravagantes de Taylor Swift. Enquanto o fandom da cantora americana se estapeia na internet para saber quem faz mais loucuras, ou quem mais se parece com a protagonista da The Eras Tour, o séquito do filho mais ilustre de Sergio Buarque de Holanda não deixa por menos, como se lê no texto de Luciana Bugni no UOL:
Em outubro de 2009, recebi a missão de ficar na cola de Chico Buarque. Trabalhava na revista Contigo! , um dos títulos brasileiros que à época tinham tradição no jornalismo paparazzi de celebridades. A prática, em tempos que os próprios famosos compartilham suas vidas de propósito nas redes, se perdeu. Mas naquele fim de década, eu me dedicava a seguir pessoas, insistir, pedir respostas, cutucar feridas. E chorar nos intervalos. Que aflição.
Chico estaria no Prêmio Bravo!, revista do mesmo núcleo que a Contigo!, mas que, diferentemente dessa última, era muito querida pelos artistas. O compositor estava em sua versão escritor naquela noite e havia aceitado o convite da Abril e ido até a sala São Paulo, no centro da cidade, para ganhar um prêmio de literatura pelo romance "Leite Derramado", recém-lançado. Eu deveria grudar nele e arrancar uma entrevista de alguém que nunca fala com a imprensa. Ou seja, sonhar mais um sonho impossível.
Olhando em retrospecto, penso que poderia nem ter tentado. Bastava chegar à chefia no fim da noite e confirmar o óbvio fracasso. Mas eu era dessas mulheres que só dizem sim (para a minha chefe, Denise Gianoglio). É assim que a gente alcança o rótulo tão almejado de bom profissional, me disseram, então fiz o que podia: esperei na coxia e pedi o que precisava com o melhor sorriso que encontrei.
Ao “olhar em retrospecto”, Bugni mal consegue segurar a emoção de ter chegado tão perto de um ídolo como Chico Buarque. Não contente, a jornalista ainda faz em sua coluna um jogo de palavras com a música “Folhetim”, como se fosse original. A falta do superego e de editores promove esse tipo de constrangimento, mas Bugni considera isso o máximo. A grande revelação do texto é que Chico Buarque não apenas negou a entrevista, mas recusou dar um abraço na jornalista. Quinze anos depois, ela ainda vê a história como um feito.