Neste dia 24 de agosto de 2024, em que se comemora a data da morte de Getúlio Vargas, fica cada vez mais nítido de que o que os brasileiros precisam é de alguém com a ousadia moral de um Sólon.
Modelo de legislador para um sujeito rigoroso como Platão, Sólon, quando percebeu os primeiros sinais de decadência na frágil ordem da pólis ateniense, afirmou que a culpa nunca foi dos deuses, como muitos queriam pensar, mas sim dos próprios atenienses que, por não terem compreendido a “medida invisível” da justiça divina que mora dentro de cada alma, revoltaram-se contra a natureza das coisas, prejudicando a estabilidade social e política de Atenas. Obviamente, ele foi escorraçado pelo povo, e sua única escolha foi o exílio, para que o “julgamento do Tempo” desse a resposta justa, sempre em conformidade com a “medida invisível” que orientava a sua alma em direção à verdade transcendente.
Hoje, pouca coisa mudou – e se mudou, foi para pior. A simples menção da palavra “transcendência” na boca de um político virou um palavrão cabeludo. Mas o sinal claro de decadência está no espinho da culpa, que perfura nossas mãos justamente por fazermos um joguinho de empurra-empurra em que a responsabilidade sempre é do Estado, da sociedade capitalista, da pobreza mundial, da Igreja Católica, do FMI, dos Estados Unidos, do PT, do Donald Trump, do Banco Central, da Dercy Gonçalves, dos finados Roberto Marinho e Sílvio Santos e, quiçá, do vizinho da esquina, quando, na verdade, a culpa de estarmos neste pandemônio é da nossa natureza mesquinha, enraizada numa inveja espiritual que os acadêmicos catalogaram no eufemismo burocrático do “homem cordial”.
Os discursos populistas de um Lula e de um Jair Bolsonaro sintetizam, cada um a seu modo, os quatro tipos de político que o brasileiro deseja ser, para então agir por si mesmo nos bastidores do poder: o operário orgulhoso de sua ignorância; o patriota-nacionalista-estatólatra-peso-pesado que usa agora do discurso do Estado Mínimo para atrair mais eleitores; o senador do establishment que transita tranquilamente entre os anseios da classe media; e o caudilho simpático.