Parte 2
Na obra de Martín Kohan, a violência nunca está longe. Irrompe com frequência na vida de quem pensa estar protegido dela. Ciências morais relata o papel de María Teresa, uma jovem inspetora de alunos em uma escola tradicional de Buenos Aires durante a Guerra das Malvinas. Trata do tédio na vida das pessoas, da sensação de impotência - não sem uma ponta de atração - mediante um chefe autoritário, do prazer cruel e fugaz em vigiar o outro. Em seu afã de mostrar-se competente, María Teresa esconde-se no banheiro dos rapazes para descobrir um possível fumante entre eles. O que começa como cumprimento do dever torna-se inconfessavelmente lascivo: a descoberta da delícia em tocar-se, a repetida volta a esse cubículo em busca do gozo, a despeito do lugar infecto, onde certamente os feromônios dos adolescentes saturam o ar com mais potência:
"Com o passar dos dias, adquiriu tanto o costume de se esconder e vigiar no banheiro masculino que até incorporou o hábito de urinar lá todas as vezes. Já não espera, como no princípio, que a vontade a obrigue. Faz, simplesmente, e até gosta de fazer. Às vezes até não sente nenhuma necessidade, só essa comichão que lhe vem quando um aluno entra no banheiro, mas não no sentido estrito da necessidade de urinar. E ela, de qualquer forma, entra no cubículo e tira a calcinha, como se estivesse apertada, se bem que poucas vezes esteja”.