#OMistérioJonFosse (2)
A hipnose de uma obra literária famosa, mas ainda pouco compreendida
[Leia a primeira parte do texto]
Ibsen, Beckett e Fosse
Fora Ibsen, Jon Fosse é o dramaturgo mais encenado na Noruega; cerca de 100 peças suas vão aos palcos a cada ano por toda a Europa. Então por que ele é tão pouco conhecido deste lado do Atlântico? No Brasil, ao menos, a resposta está, em parte, na ausência de traduções até pouco tempo. Melancolia I e Melancolia II, lançados respectivamente em 1995 e 1996, foram traduzidos e publicados pela Tordesilhas em volume único – sábia decisão - em 2015, mas pouco se ouviu dele. Desde o anúncio do Nobel, em outubro de 2023, foram publicados outros romances, uma coletânea de poesia e 3 peças de teatro. É auspiciosa a notícia de várias obras de Fosse estarem agora disponíveis no Brasil, mas Fosse é exigente com seus leitores, não escreve para multidões.
Segundo o New York Times, Fosse é Ibsen despido à essência da emoção, mas muito mais, porque possui uma simplicidade poética. Mas não é só na linguagem poética que se diferenciam Fosse e Ibsen. Henryk Ibsen (1828-1906) foi imensamente popular em seu tempo. Suas peças eram sempre publicadas antes de serem encenadas, e nas estreias formavam-se longas filas de bilheteria. O povo norueguês tinha mais afinidade com o teatro do que com o romance e Ibsen foi o mais popular durante a maior parte de sua carreira. No início escrevia de forma romantizada, até dark, refletindo seus próprios períodos de depressão. Quando adotou um certo humor e passou a retratar protagonistas rebeldes, sua popularidade cresceu muito. Na fase final, mais política e crítica da sociedade norueguesa vitoriana, o público sentiu-se exposto, como se ele revelasse um segredo sabido por todos, e seu sucesso diminuiu. Mesmo assim, é até hoje considerado um gigante da dramaturgia.