#OModernistaRedescoberto (2)
"A Menina Morta", de Cornélio Penna, é o nosso grande romance moderno sobre a escravidão
[Leia aqui a primeira parte do ensaio]
Se o que chama a atenção em Fronteira é seu aspecto simbólico, algo cifrado, em A menina morta a narrativa se destaca não apenas pela galeria de personagens, mas, essencialmente, pela interpretação alternativa da cultura nacional, mais precisamente de certo Brasil profundo. À primeira vista, esses pontos são detalhes se comparados com a história do romance. Todavia, são essas partículas elementares que transformam a narrativa para além do pitoresco ou do retrato descritivo. Sobre isso, cumpre mencionar a Nota Preliminar de Augusto Frederico Schmidt.
No texto que apresenta ao livro (a referencia aqui é o texto da Editora José Aguilar, de 1958), Frederico Schmidt destaca que o leitmotiv para a produção do livro foi “um certo quadro que ele recebeu por herança de uns parentes seus”. Ainda de acordo com Schmidt, desde então, essa imagem, que trazia a representação de uma menina morta em seu caixãozinho branco, tornou-se uma das obsessões de Cornélio Penna. Em que pese essa avaliação externa ao texto literário, logo em seguida, ainda no mesmo texto, Schmidt salienta que a obra é uma das mais extraordinárias que já foram escritas sobre a escravidão. Eis um diagnóstico que, ainda no século XXI, permanece preciso.