#ONaufrágioDosÂncoras
Nos EUA e no Brasil, as saídas de Jim Acosta e de Rodrigo Boccardi mostram por que o jornalismo se tornou um negócio diferente.
A semana não foi fácil para o jornalismo profissional.
Na terça-feira, Jim Acosta, o âncora da CNN conhecido por brigar com assessores de Trump e com o próprio Laranja ao longo do primeiro mandato, se demitiu ao vivo.
De acordo com o relato da revista VEJA:
O âncora do canal CNN nos Estados Unidos e correspondente da Casa Branca em Washington Jim Acosta anunciou ao vivo sua demissão da emissora nesta terça-feira, 28.
O jornalista trabalhou por 18 anos na emissora e cobria principalmente os assuntos relacionados aos presidentes americanos. O motivo da demissão teria sido sua recusa em aceitar mudanças na rede, como a alteração do noticiário que ele apresentaria e sua mudança de Washington para Los Angeles.
A cena foi digna de um espetáculo cafona, típico de filmes laudatórios do jornalismo, aqueles que Hollywood faz de tempos em tempos para defender quem “fiscaliza o poder”. Como se sabe, boa parte desses filmes é propaganda gratuita para as empresas que controlam os canais de notícia.
A declaração de Acosta esteve em linha com esse cabotinismo
"Como filho de um refugiado cubano, levei para casa a lição de que nunca é um bom momento para se curvar a um tirano. Sempre acreditei que é função da imprensa responsabilizar o poder. Sempre tentei fazer isso na CNN e planejo continuar fazendo isso no futuro."
Embora os jornalistas gostem de se projetar como verdadeiras vestais em busca da verdade, os profissionais de imprensa são, para o bem e para o mal, demasiado humanos e, também por isso, não ficam por muito tempo na posição de heróis da nação.
No Brasil (conforme publicado mais cedo aqui no NEIM), Rodrigo Bocardi foi demitido de forma sumária da Rede Globo, onde era âncora do telejornal regional de São Paulo e folguista do Jornal Nacional, depois de uma investigação do compliance. A emissora compartilhou a seguinte nota:
“Rodrigo Bocardi, que apresentava o telejornal paulista, foi desligado por descumprir normas éticas do Jornalismo da Globo. Como é de conhecimento de todos, a empresa não comenta decisões de compliance. A partir de amanhã, dia 31, a jornalista Sabina Simonato apresentará o Bom Dia São Paulo. Sabina, que estreará à frente do novo telejornal Bom Dia Sábado, ao lado de Marcelo Pereira, neste sábado, dia 01 de fevereiro, vai ancorar o Bom Dia São Paulo interinamente”.
Como o Grupo Globo não comenta decisões de compliance (o que torna essa instância uma espécie de domo de ferro corporativo, uma vez que parece inviolável a qualquer tentativa de investigação de quem está de fora), sobram apurações e outras teorias de conspiração que correm à solta na internet. No entanto, é importante que se diga: nenhum desses repórteres/twixteiros/youtubers trouxe qualquer prova acerca da conduta de Bocardi. Como o estagiário está sob o olhar sanguinário do advogado do NEIM, talvez seja prudente deixar as especulações para quem tem bala na agulha para sustentar as acusações que pululam na rede.
Seja nos EUA, seja no Brasil, a queda dos âncoras é sinal não apenas da crise de um modelo de telejornalismo – nos EUA , a figura do âncora remonta a figuras como Walter Cronkite e Dan Rather; no Brasil, Cid Moreira, Sergio Chapelin também fizeram história, além de Boris Casoy –, mas, essencialmente, de uma credibilidade que se perdeu em meio à disputa ideológica do século XXI.
Este é o momento em que a mídia tem dificuldade em pactuar quais são os fatos de um determinado acontecimento. Sobram versões: de modo que, para ficar nos EUA, a cobertura do acidente aéreo na voz de Anderson Cooper ou Rachel Maddow apresenta uma versão totalmente distinta daquela apresentada por Tucker Carlson em seu canal.
Aliás, a própria ideia de que as emissoras ficaram menores do que esses âncoras, que, antes, eram parte do ecossistema de notícias, mas não tinham mais relevância do que as emissoras.
Atualmente, a programação da GloboNews está refém dos cortes e das brigas dos programas que contam com a participação dos comentaristas que disputam qual será a interpretação de um acontecimento. Notem: o fato em si não importa mais, apenas sua repercussão nas mídias sociais que as emissoras e os jornalistas dizem odiar.
Ao saírem da CNN e da Globo, Jim Acosta e Rodrigo Bocardi não anunciaram que vão parar. Pelo contrário, prometeram ao seu público que vão prosseguir, colonizando, quem sabe?, outra emissora, ou, pior ainda, a atenção dos seus seguidores que querem mais daquela personalidade.
Enquanto isso, as emissoras preparam os próximos âncoras para o seu naufrágio inevitável.
Não acho que tenhamos âncoras propriamente dito, com carisma, credibilidade, autoridade e liberdade bastante para falar o que bem entendem. Temos apresentadores, que leem a notícia e fazem um caras e bocas, ou um comentariozinho superficial. A pauta vem de cima.
Qual o motivo desse texto postado em 01/02/2025, ter sido novamente publicado hoje?????