“A virtude é tão pouco considerada nestes dias comercializados de hoje, que os honestos têm de cuidar de ursos, quem tem presença de espírito tem de vender cerveja, e sua habilidade é desperdiçada nas contas…”
Shakespeare. Henrique IV.
Lúcio Quíncio Cincinato foi um agricultor que no século V a.C., vez ou outra, foi convocado pelos romanos para ser seu ditador – que era o sujeito escolhido pelo senado para governar temporariamente em tempos de emergências.
Ninguém sabe ao certo se é uma lenda, mas Cincinato foi uma figura reverenciada como um líder que não buscava poder, só o aceitou em algumas ocasiões para atender aos apelos de seus concidadãos. Assim que resolvia o problema e derrotava os inimigos, tornava a se retirar de cena e, mesmo diante de muita insistência, jamais aceitou se candidatar a cônsul.
Algumas almas têm dificuldade de conceber, mas há 2.500 anos não existia capitalismo, socialismo, nem polarização de direita esquerda. Não havia rede social também. Ainda assim, lá estavam coisas como guerras, conflitos entre patrícios e plebeus e, claro, o interesse pelo poder e pelas riquezas. Homens que não sucumbiam às fraquezas das paixões eram outrora reconhecidos como corajosos e honrados, e tais virtudes eram valorizadas. Séculos depois, coragem e honra permanecem tão raras quanto qualquer virtude e, mesmo quando se apresentam diante de nossos olhos, muitos não as reconhecem e afastam-se, tomados pelo pavor.
Cincinato foi descrito por muitos historiadores como um sujeito justo e incorruptível, porque não estava nem aí para a paçoca do poder e, como era acostumado a uma vida frugal, também não se encantava pelo dinheiro.
[Pausa para você despertar do delírio, prezado leitor].